quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Porcos podem ser a salvação de diabéticos


Porcos podem ser a salvação de diabéticos

Pesquisadores estão testando células de ilhotas suínas produtoras de insulina para tratar pessoas com diabetes tipo 1

Larry Greenemeier

                 Cortesia da MicroIslet Inc.
ENCAPSULAMENTO DE ILHOTAS: A MicroIslet está desenvolvendo ilhotas microencapsuladas para injeção na cavidade abdominal como um tratamento possível para a diabetes tipo 1.
A maioria das pessoas provavelmente vê os porcos, na melhor das hipóteses, como uma fonte de subsistência ou, na pior, como animais glutões. Mas parece que nossos amigos suínos podem também ser valiosos na luta contra o diabetes tipo 1. Pesquisadores estão realizando experiências com novas maneiras de colher células de ilhotas produtoras de insulina em porcos para transplantá-las em portadores do diabetes – na esperança de um dia reduzir a necessidade de doses diárias de insulina e até mesmo substituí-las por tratamentos com células de ilhotas duas vezes ao ano.

No diabetes tipo 1, o sistema imunológico ataca e destrói as células de ilhotas produtoras de insulina no pâncreas. A empresa de biotecnologia MicroIslet Inc., em San Diego, Califórnia, está desenvolvendo um tratamento em que as ilhotas suínas produtoras de insulina são implantadas no peritônio (membrana fina que reveste a cavidade abdominal) de uma pessoa, a partir de um cateter externo, passando por um tubo inserido no estômago.

“Os transplantes de ilhotas humanas também podem funcionar, mas o método não representa uma oportunidade comercial, em razão do acesso limitado ao pâncreas [alguém precisa morrer para se obter as células],” afirma Keith Hoffman, membro da diretoria da MicroIslet. Essa escassez significa que “milhões de pessoas” não têm acesso aos transplantes de ilhotas que poderiam colocar a diabetes sob controle, ele acrescenta.

No método de encapsulamento das células da MicroIslet (desenvolvido pela Duke University), as células de ilhotas suínas são isoladas do sistema imunológico humano com a ajuda de um escudo de alginato (um agente espessante derivado das algas marinhas), de modo que possam produzir insulina quando necessário sem serem destruídas por anticorpos humanos. Substâncias como a insulina, a glicose e o oxigênio são capazes de se passar livremente pelo alginato.
TRATAMENTO DE CÉLULAS: O encapsulamento de alginato da MicroIslet é projetado para proteger a ilhota (vermelho) contra os linfócitos (amarelo) e os anticorpos (azul claro), ao mesmo tempo em que permite que substâncias como a insulina, a glicose e o oxigênio passem livremente pela membrana.
A MicroIslet não é a única companhia que está pesquisando um tratamento para o diabetes por meio de xenotransplante (transplante entre espécies) encapsulado. A empresa de biotecnologia australiana Living Cell Technologies, Ltd. está testando ilhotas suínas neonatais encapsuladas em gel de alginato, o DiabeCell, que também podem ser transplantadas para o tratamento de pacientes com diabetes que dependem de doses de insulina. O primeiro paciente do DiabeCell recebeu o implante em junho de 2007, e este ano a empresa planeja concluir seu ensaio clínico na Rússia. Já MicroIslet pretende levar adiante esse procedimento, melhorando a durabilidade das ilhotas microencapsuladas de modo que resistam à rápida deterioração (embora permitindo que se mantenham plenamente sensíveis), para com isso ampliar o intervalo entre os implantes.

A MicroIslet adverte que, embora acredite que o xenotransplante possa ser uma solução terapêutica para milhões de diabéticos em todo o mundo, provavelmente não substituirá as injeções de insulina para todos os portadores da doença. O transplante pode não ser adequado para alguns diabéticos e outros talvez tenham que continuar a tomar as injeções (embora com menos freqüência).
Em 2005, o U.S. Centers for Disease Control and Prevention (agência governamental americana de saúde) estimou que cerca de 7% da população dos Estados Unidos (20,8 milhões de pessoas) tinha diabetes (tipo 1 e 2) – e 6,2 milhões dessas pessoas não estavam cientes disso. Cerca de 21% dos pacientes de diabetes do país têm 60 anos ou mais. A Organização Mundial de Saúde estima que mais de 171 milhões de pessoas são portadoras da diabetes em todo o mundo.

A MicroIslet testou seu procedimento em roedores normais e naqueles com sistema imunológico defeituoso, e atualmente está estudando os efeitos colaterais potenciais. “Os estudos preliminares com roedores foram elaborados para analisar a eficácia e a duração dos implantes”, afirma Amaresh Basu, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da MicroIslet. Testes de xenotransplante de ilhotas suínas em primatas também estão em andamento.

Embora a perspectiva de transplantes de ilhotas suínas seja uma grande promessa e “uma das melhores opções para o tratamento do diabetes tipo 1”, o maior obstáculo virá da predisposição do sistema imunológico humano para aceitar as novas células, afirma Ewan McNay, professor assistente de medicina interna especializado em endocrinologia da Escola de Medicina da Yale University, em New Haven, Connecticut. “Esse é o caso de qualquer transplante”, acrescenta McNay. “Em primeiro lugar, a diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, portanto é provável que essas células-tronco enfrentem os mesmos problemas que aquelas do pâncreas original encararam.”

A MicroIslet espera começar as experiências com xenotransplante em humanos no final do ano. Os candidatos para o procedimento serão pacientes de diabetes que receberam transplante de rim. “São pessoas que estão sofrendo dos mesmos problemas que atacaram seu rim original”, diz Hoffman.

A insulina de porco é uma boa candidata para o xenotransplante em humanos, pois se diferencia da insulina humana em apenas um único aminoácido. Embora a Food and Drug Administration (FDA), órgão de controle de remédios e alimentos dos Estados Unidos, tenha aprovado os xenotransplantes de órgãos suínos, ainda não está claro por quanto tempo essas novas ilhotas conseguirão se manter funcionais no organismo humano, afirma Hoffman. “Se durarem de seis meses a um ano, seria possível fazer o tratamento nesses intervalos”, explica.


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