Os problemas com o aumento do peso há muito deixaram de ser dramas pessoais para poucos, para se tornarem o maior problema de saúde pública mundial. Cada vez mais gordas, as populações urbanas e rurais têm na obesidade o maior vilão da vida moderna. Além do sedentarismo, incentivado pela tecnologia que nos deixa sempre mais "preguiçosos", a péssima alimentação baseada em produtos industrializados como o fast-food tem aumentado casos de doenças crônicas decorrentes do excesso de peso.
Espanha: Alimentos pouco saudáveis na mira...
Junk-food com propaganda proibida na Suíça...
Qual a situação da obesidade e suas complicações no Brasil?
1. Promover e proteger a alimentação saudável;
2. Controlar a publicidade de alimentos com quantidades elevadas de nutrientes e de outros componentes potencialmente prejudiciais à saúde, quando consumidos excessivamente;
3. Conferir proteção especial ao público infantil (crianças de 0 a 12 anos, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente).
De acordo com a proposição da Anvisa, será obrigatória a veiculação de mensagens que orientem o consumidor quanto aos riscos associados ao consumo excessivo de alimentos ricos em açúcar, sal, gordura saturada, gordura trans e bebidas de baixo valor nutricional. O Governo também pretende impedir que brindes, prêmios, bonificações e apresentações especiais sejam condicionados à aquisição desses alimentos, bem como proibir a utilização de figuras, desenhos e personagens admirados pelo público infantil no momento da venda destes alimentos. A proposta da Anvisa ainda será submetida à audiência pública, para posterior publicação e entrada em vigor, após o prazo de adequação indicado no texto legal.
Sobrepeso: Preocupação mundial
Hoje, já somos mais de 1,6 milhões de pessoas com sobrepeso em todo o mundo, de acordo com o Dr Barry Popkin, professor de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Em conferência, durante o Congresso Mundial de Endocrinologia, que ocorreu pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro, entre os dias 8 e 12 de novembro, Popkin observou que “o número assustador de obesos já ultrapassou, há muito tempo, os 800 milhões de desnutridos espalhados pelo mundo, fazendo da obesidade uma pandemia, responsável direta ou indiretamente pela maior taxa de mortalidade imposta por qualquer outro fator de risco existente”, diz a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional.
Os dados nos alertam para a “migração da obesidade” das zonas urbanas para as rurais, pois o campo já não é mais o mesmo. Mecanizou-se e passou a conviver de perto com refrigerantes, biscoitos e guloseimas, que conseguem chegar até os mais longínquos rincões. “A ‘obesidade migrou’ também dos povos ricos para a população de baixa renda, uma vez que os alimentos mais calóricos e palatáveis são justamente os mais baratos e acessíveis”, afirma a médica.
Evolução tecnológica e sedentarismo a favor da obesidade
A tecnologia também parece jogar contra. À medida em que evoluímos e compramos um carro, que utilizamos vários tipos de controle remoto, que utilizamos elevadores, escadas rolantes e botões que abrem e fecham os mais variados dispositivos que necessitamos, passamos a queimar muito menos calorias. Assim, o sedentarismo parece ser um fator muito importante no avanço da obesidade. “Apesar de existirem vários fatores aliados ao sedentarismo, determinando o aumento progressivo do peso das pessoas do mundo todo, são os novos hábitos alimentares os grandes vilões. Não há dúvida de que engordamos porque comemos muito mais calorias do que gastamos, muitas vezes, em pequenos volumes de alimentos densamente calóricos, outras vezes, gran
des porções de alimentos lights ou diets, que consumidos em grandes volumes, têm o mesmo efeito dos anteriores”, defende a endocrinologista Ellen Simone Paiva.
Ao avaliar as mudanças alimentares que podem estar relacionadas com o aumento de peso no mundo, o Dr Popkin descreveu, com grande propriedade, algumas delas:
- Aumento no consumo de açúcar nos últimos 30-40 anos;
- Aumento no consumo dos óleos vegetais;
- Aumento do consumo de laticínios;
- Aumento no consumo de alimentos processados e carboidratos refinados;
- Redução do consumo de frutas e vegetais;
- Aumento do consumo de lanches;
- Consolidação dos supermercados como locais de compra de alimentos, onde as famílias consomem preferencialmente alimentos industrializados.
O papel da indústria de alimentos e dos governos
Diante de problema de tamanha proporção, a indústria de alimentos e os governos devem desenvolver ações em conjunto, no sentido de produzir alimentos mais saudáveis e de menor custo. Assim, as agências reguladoras de alimentos de todos os países devem empenhar-se em exigir rotulações exatas e de linguagem acessível ao público leigo. E finalmente, os governos devem sobretaxar alimentos mais calóricos e subsidiar alimentos mais saudáveis, tornando vantajosa a compra desses, não somente do ponto de vista nutricional, mas também econômico.
“Assim, todo e qualquer aumento excessivo no teor de açúcar e gorduras dos alimentos deveria ser tributado e não o contrário, como ocorre na indústria de alimentos. Hoje, um litro de leite desnatado é muito mais caro do que um litro de leite integral. Chega a ser ínfimo o preço de um pacote de bolachas recheadas em relação ao preço do pão integral”, defende Ellen Paiva.
De acordo com o Dr Barry Popkin, da mesma forma que os governos têm programas de prevenção de saúde bem sucedidos como os de uso dos cintos de segurança e de combate ao tabaco, eles também devem olhar com a mesma preocupação para o avanço da obesidade no mundo e lançar programas relacionados à prevenção da mesma. Uma política de prevenção parece ser a única forma eficaz e economicamente viável contra o avanço da obesidade no mundo, uma vez que o tratamento das comorbidades desta doença impõe gastos intoleráveis aos países em desenvolvimento.
“Enquanto nosso arsenal terapêutico contra a obesidade tem se mostrado tão frágil, precisamos contar com povos esclarecidos e motivados, uma indústria de alimentos engajada no mesmo esforço e governos responsáveis e interessados em declarar guerra contra a doença que vem desafiando nações em todo o mundo”, diz a diretora do Citen.
Nenhum comentário:
Postar um comentário