Entenda como o remédio age no organismo e se ele realmente engana o
bafômetro
POR CAROLINA SERPEJANTE -
Para fugir da lei seca, muitas
pessoas estão usando um remédio chamado Metadoxil, normalmente usado para o
tratamento do alcoolismo e de alterações no fígado. O medicamento é composto
por pidolato de piridoxina (um derivado da vitamina B6) e carboxilato pirrolidona
(ácido que atua no sistema neurológico). Por ser de tarja vermelha, o Metadoxil
só pode ser vendido sob prescrição e orientação médica. Entretanto, o remédio
está sendo consumido em altas quantidades - até seis pílulas de uma vez - com a
intenção de enganar o bafômetro, aparelho que mede o nível de álcool no sangue,
ou para reduzir os efeitos da bebida. Conversamos com especialistas no assunto
e descobrimos como o Metadoxil age em nosso corpo e quais os riscos do consumo
sem indicação:
Para quais casos ele é indicado?
O Metadoxil é usado para tratar
intoxicações agudas e crônicas do fígado. "Quando o indivíduo alcoolizado
precisa ser hospitalizado, uma das medidas para reverter o quadro é o uso do
medicamento", afirma a hepatologista Edna. "Mas devemos lembrar que é
apenas parte do tratamento, que envolve procedimentos como hidratação e reposição
de glicose e vitaminas", completa. No caso da intoxicação crônica, como a esteatose hepática, ou quando a pessoa tem
o vício e precisa parar de beber, uma das alternativas é o Metadoxil. "Ele
ajuda o individuo a manter a abstinência, mas esse não é o único medicamento
com essa função e nem o mais eficaz para esse caso." O Metadoxil é normalmente
ingerido em torno de quatro comprimidos por dia em horários determinados,
durante 60 a 90 dias.
Qual a ação do medicamento em nosso corpo?
Ele não é capaz de manter sóbria uma pessoa que ingeriu álcool
Quando ingerimos bebidas
alcoólicas, mais de 90% do álcool vai para o nosso fígado, que irá metabolizar
a substância, ou seja, absorver o que é aproveitável e excretar o que não é.
"Os resultados dessa metabolização são basicamente água, gás carbônico e
muitos corpos tóxicos ao organismo, que podem causar alterações, como a
esteatose hepática (fígado gorduroso)", explica a hepatologista Edna
Strauss, da Sociedade Brasileira de Hepatologia. Ao exagerar na bebida
alcoólica, nosso fígado produz mais corpos tóxicos do que pode suportar, e é
nesse cenário que o Metadoxil começa a agir. "O medicamento irá eliminar
essas substâncias tóxicas e repor nutrientes que são importantes para o fígado
funcionar corretamente", diz a hepatologista.
Não. "É comprovado que o
Metadoxil metaboliza o álcool no fígado mais rapidamente, o que causa uma leve
diminuição de suas quantidades no sangue, mas de forma alguma reduziria a
zero", diz o endocrinologista e gastroenterologista Joaquim Melo,
presidente da Associação de Estudos do Álcool e Outras Drogas (ABEAD). De
acordo com o especialista, o medicamento pode até retardar os efeitos da embriaguez,
deixando a pessoa com a sensação de que não está tão bêbada quanto de costume.
"No entanto, isso não é o suficiente para que conste no bafômetro que ele
não bebeu", completa.
Ele impede uma pessoa de ficar embriagada?
Saiba mais
Não. O fígado metaboliza em média
uma dose de bebida alcoólica por hora - o equivalente a uma lata de cerveja
(360ml), uma taça de vinho (100ml) ou de destilado (40ml) - e mesmo esse tempo
pode variar de pessoa para pessoa ou conforme outros fatores, como a ingestão
de líquidos e alimentos. "Ao tomar o Metadoxil, o fígado começa a
trabalhar com maior eficiência e impede uma intoxicação alcoólica imediata,
efeito parecido com o de beber sem estar com o estômago vazio", explica
Joaquim Melo. Esse efeito pode causar uma impressão de maior sobriedade,
evitando num primeiro momento graves alterações fisiológicas. Mas, segundo o
presidente da Abead, ele não é capaz de manter sóbria uma pessoa que ingeriu
álcool.
Quais os efeitos colaterais do uso inadequado da medicação?
O uso indiscriminado do Metadoxil
pode causar sintomas como alterações gástricas (gastrite, azia) mal estar,
taquicardia e convulsões. Mulheres grávidas ou amamentando não podem ingerir a
medicação, e pessoas sensíveis aos componentes do remédio podem sofrer as
consequências mais graves. Entretanto, os especialistas afirmam que no geral a
pessoa sentirá apenas um desconforto estomacal.
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