Farejando o diabetes – cães salvam a vida de donos com hipoglicemia!
Redação Diabeticool
Ricardo Schinaider traz para nós a história por trás da primeira instituição que cria cachorrinhos para “farejar” a quantidade de açúcar no sangue dos donos!
POR RICARDO SCHINAIDER DE AGUIAR, ESPECIAL PARA O DIABETICOOL
Pesquisas com cães já haviam demonstrado o seu potencial para detectar alguns tipos de câncer em humanos, mas você sabia que eles também podem detectar baixa glicemia e alertar seus donos?
Cães possuem um olfato extremamente apurado. Enquanto um humano tem por volta de 5 milhões de células olfativas no nariz, um cachorro pode ter de 125 a 300 milhões delas. Isso significa que o olfato desses animais é entre mil a 100 mil vezes mais apurado do que o nosso. Já há alguns anos, cientistas estudam a possibilidade de usar essa capacidade olfativa dos cachorros para a detecção de alguns tipos de câncer em seres humanos. Uma instituição de pesquisa, chamadaDogs4Diabetics (“Cachorros para Diabéticos”, em tradução livre), decidiu explorar a habilidade desses animais também no caso do diabetes. Eles treinam e habilitam cães para detectarem níveis baixos de glicose no sangue e avisarem seus donos que estão sofrendo de hipoglicemia.
COMO TUDO COMEÇOU
A primeira evidência, publicada em uma revista científica, de que cães poderiam detectar doenças em humanos surgiu no ano de 1989. Uma carta enviada ao periódico britânico The Lancet afirmava que um cachorro cheirava e dava atenção incomum a uma lesão na perna de sua dona. Um dia, o animal de estimação tentou morder a região lesionada, o que fez sua dona procurar ajuda médica. Após exames, foi confirmada que aquela lesão era um tipo de melanoma maligno. A partir de então, cientistas começaram a dar mais atenção para esse aparente “talento” dos cães.
Em 2004, um estudo realizado pelo médico britânico John Church, do Hospital Amersham, confirmou que seria possível treinar cães para detectar câncer de bexiga. Na sua pesquisa, ele treinou seis cachorros de diferentes raças durante sete meses para diferenciar entre os cheiros de urina de pessoas com e sem câncer de bexiga. Após esse período, os animais foram postos à prova e analisaram 54 amostras de urina. Caso o treinamento não tivesse funcionado, a taxa de acerto esperada no teste, devido ao acaso, seria de 14%. Os cães, no entanto, acertaram em 41% das vezes. Embora o sucesso não tenha sido completo, o estudo demonstrou que havia potencial para o uso desses animais na detecção de câncer.
DO CÂNCER AO DIABETES
No mesmo ano de 2004, a Dogs4Diabetics foi fundada. A instituição norte-americana surgiu com o intuito de pesquisar e treinar cães para serem usados por pessoas com diabetes. Ralph Hendrix, diretor executivo da Dogs4Diabetics, explicou como os animais podem ajudar diabéticos a controlar a glicemia. “Nós acreditamos que todas as doenças possuem cheiros associados a elas, devido a mudanças que ocorrem no organismo. Esses odores são evidentes no hálito e no suor”, diz ele. “Cachorros têm o olfato muito sensível e podem aprender a reconhecer sintomas de muitos tipos de doenças. Em nosso trabalho, porém, eles não aprendem a reagir a sintomas, mas sim aos odores”.
No processo de treinamento, os cães aprendem a reconhecer o odor do hálito ou do suor de um paciente sofrendo de hipoglicemia. A segunda etapa é ensiná-los a discriminar esse cheiro de outros que podem distraí-los, através de uma série de jogos e exercícios. “Todos os diabéticos possuem cheiros residuais de episódios anteriores de hipoglicemia. Esse odor está presente em suas casas, roupas, cama. Os cães precisam aprender a diferenciar o odor do passado do odor do presente”, ressalta Hendrix.
Apenas após serem aprovados no extensivo treinamento os cães são liberados para serem usados pelos clientes da Dogs4Diabetics. A instituição também treina os seres humanos para responderem de forma apropriada aos cães. É necessário, por exemplo, que o dono teste sua glicemia para confirmar o diagnóstico do seu animal de estimação antes de tomar qualquer atitude.
TREINAMENTO ADEQUADO É FUNDAMENTAL
Segundo Hendrix, a habilidade do cão de detectar uma doença se deve à preparação que ele recebeu. O diretor da Dogs4Diabetics relata que algumas companhias de treinamento não fornecem uma preparação adequada para assegurar que seus cães estejam totalmente qualificados para identificar uma doença. “Nós estamos particularmente preocupados com casos de pessoas que vendem filhotes com supostas habilidades de identificarem quadros de hipoglicemia”, diz ele. “É impossível gravar um odor em um filhote e esperar que ele seja confiável e consistente ao longo de toda a sua vida. Mas pessoas chegam a pagar até U$ 20 mil em uma tentativa desesperada de obter um cachorro treinado”.
Por esse motivo, é essencial verificar se a instituição de treinamento é confiável e fornece um adestramento apropriado. A vida dos donos desses animais pode estar em risco. “Ficamos estarrecidos quando ouvimos falar de treinadores ou diabéticos que estão dispostos a confiar a sua vida, ou a vida de uma criança ou parente, a um cão que não foi propriamente treinado ou certificado”, diz Hendrix.
E O QUE ESPERAR NO FUTURO?
Para o fundador da Dogs4Diabetics, Mark Ruefenacht, nós estamos apenas “riscando a superfície” do que um cachorro pode fazer para ajudar em diagnósticos e tratamento de diversas doenças humanas.
Devido às pesquisas que exploram o olfato dos cães para a detecção de doenças, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Israel, em parceria com a empresa americana Alpha Szenszor, fabricaram um dispositivo chamado Na-Nose. O aparelho é baseado na sensibilidade do nariz de cachorros e consegue detectar mais de mil gases diferentes no hálito humano. Os cientistas pretendem usá-lo para identificar casos de câncer de pulmão. Em testes clínicos, o Na-Nose teve precisão de até 95%.
Rob Harris, um dos diretores do centro de pesquisa chamado Medical Detection Dogs, que treina cães para detectar odores de doenças humanas, enfatiza alguns dos benefícios do uso desses animais. “O valor desses cães está em sua habilidade de detectar mudanças precocemente, dando a oportunidade aos nossos clientes de se tratarem e evitarem, muitas vezes, a intervenção de paramédicos e idas a hospitais. O cachorro pode acompanhar seu dono em qualquer lugar, aumentar sua confiança, independência e melhorar seu bem-estar”.
O desafio, para Hendrix, é fornecer um treinamento consistente e confiável para usar o incrível olfato dos cães. “Cães são cães, eles não podem nos dizer o que sentem, e os treinadores devem elaborar maneiras eficazes de treiná-los. Além disso, eles precisam reforçar o treinamento ao longo da vida do cachorro para manter a habilidade”.
Ricardo Aguiar é biólogo e especialista em divulgação científica (ambos pela UNICAMP) e colabora com o Diabeticool trazendo para a gente as últimas e mais empolgantes novidades da Ciência!
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