Você já ouviu falar em criança com diabetes?´
É comum ouvirmos que um amigo ou parente adulto apresenta diabetes. Porém, o diabetes pode acometer crianças desde o nascimento, até a fase de adulto jovem. Neste caso estamos falando do Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1). Esta é uma situação diferente do diabetes do adulto (que se chama Diabetes tipo 2), pois aparece de forma repentina e inesperada. Geralmente é desencadeado após uma gripe, e há dois picos de aparecimento: por volta dos 7 anos e no final de puberdade. Interessante notar que no outono há maior concentração de diagnóstico, talvez por haver mais episódios gripais neste momento.
No DM1 há ausência de produção de insulina pelo pâncreas e, portanto, deve ser tratado com a reposição de insulina, por via subcutânea.
Porque nunca ouvi falar?
Há pessoas que nunca ouviram falar em DM1. Isto porque a incidência de diabetes tipo 1 é bem menor que a do diabetes tipo 2. Apenas 7,5% das pessoas que tem diabetes, têm o tipo 1.
Quais os cuidados deve-se ter?
Inicialmente, os cuidados são com os pais. Eles devem ser orientados quanto à causa do Diabetes e, sobretudo, conscientizar de que não havia como prevenir seu aparecimento.
Uma vez retirado este peso dos pais, estes devem se informar profundamente em relação ao DM1, para transmitirem as informações de forma correta e segura para seus filhos. Quando os pais têm conhecimento e segurança sobre o Diabetes, a criança sente-se mais confiante e segue melhor o tratamento.
Outro cuidado é a realização da auto-monitoprização da glicemia, que é o exame do dedinho para medir a taxa de açúcar. Esta aferição é importante porque a taxa de açúcar do nosso sangue varia continuamente. Quando medimos esta taxa, entendemos o que está acontecendo, e melhoramos nosso controle. Vale lembrar que a taxa de açúcar alta ou baixa não traz sintomas até estar muito alta ou muito baixa. Assim, pequenas oscilações no açúcar que fazem mal à criança podem passar despercebidas se não fizermos este controle. A auto-monitorização proporciona melhor controle glicêmico e evita os picos (hiperglicemia) e vales (hipoglicemia).
Não há porque ter preconceito: o DM1 não se passa e não se pega com o amiguinho da escola.
Falando em escola, o diretor, o professor e demais profissionais que estarão perto da criança devem saber de sua condição. Eles devem ser orientados sobre o que fazer no caso da criança não se sentir bem.
Como é o tratamento?
O tratamento é feito com reposição de insulina subcutânea (para ser aplicada na gordura). Embora existam trabalhos com outras vias de administração de insulina, comercialmente apenas dispomos de insulina subcutânea. A boa noticia é que temos dispositivos mais modernos para aplicar insulina, como canetas e bombas de insulinas. As agulhas das canetas são menores e doem menos que as agulhas de seringas.
Hoje em dia sabemos que para se ter um bom controle, devemos fazer várias aplicações de insulina por dia, em pequeninas doses. Mas isso varia de criança a criança. Algumas usam 2 doses por dias, a maioria necessita de 5-6 doses. Fazemos isso para simular a liberação de insulina de uma pessoa não-diabética, onde o pâncreas libera insulina ao longo do dia, variando a dose conforme a alimentação.
Como deve ser a alimentação?
A criança deve ser alimentar de forma mais saudável possível. Não deve ingerir alimentos que contenham açúcares (os carboidratos), como o próprio açúcar e doces. Os alimentos que viram açúcar no nosso corpo como pão, arroz, bolachas, massas também devem ser consumidos com moderação. Aliás, esta é a receita de alimentação saudável. Até quem não tem diabetes deveria segui-la, pois evita o DM2 e o ganho de peso.
Dispomos de um cálculo chamado Contagem de Carboidrato. Com este calculo podemos prever o quanto de insulina devemos aplicar para cada tipo de alimentação. O controle do diabetes torna-se mais preciso, evitando hipo ou hiperglicemia. O endocrinologista pode orientar sobre a necessidade de contagem de carboidratos.
O que é bomba de insulina?
Ele tem uma cânula que é trocada a cada 3 dias. Ela envia insulina para o corpo da pessoa de forma contínua, lenta e em pequeninas doses, simulando uma situação de não-diabetes. Deste modo, o indivíduo não precisa ficar aplicando insulina com agulha ao longo do dia.
A bomba não é automática. Por isso, há necessidade dos pais, e com o tempo, a própria criança, aprenderem a manusear a bomba. Programamos a quantidade de insulina que ela enviará para seu corpo ao longo de 24 horas. Para calcular a dose das alimentações usamos a contagem de carboidrato, enviando a dose necessária para aquela refeição específica.
Portanto, antes de iniciar o uso da bomba de insulina, os pais e a criança devem saber calcular os carboidratos. Novamente, o endocrinologista avalia se a pessoa esta capacitada a usar a bomba de insulina.
A criança com Diabetes terá uma vida normal?
Para isso é preciso que a família, junto com o endocrinologista e a sociedade em geral entendam que esta é uma situação passível de controle, e que a criança não apresenta limitações. Ela apenas tem que seguir algumas regras como ter cuidado com a alimentação, fazer esportes, aplicar insulina e auto-monitorizar a glicemia.
Mas afinal, de uma forma ou de outra, todos nós seguimos regras, não é mesmo?
Dra Bibiana Prada de Camargo Colenci
Endocrinologia e Diabetes
Mestre em Edocrinologia
CRM 93718
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