quinta-feira, 13 de março de 2014

Novidades no tratamento do diabetes

O arsenal terapêutico contra o diabetes ganhou mais instrumentos para monitoramento e controle da doença
DIÁRIO DA MANHàRAFAELA TOLEDO

A edição desta semana da revista IstoÉ publicou novidades no tratamento do diabetes trazendo como “a maior virada até agora na luta contra a doença”, um novo tipo de insulina com ação de até 40 horas. Há quem diga que, aqui mesmo em Goiás, houve um avanço maior neste campo da Medicina. Neste começo de ano, o cirurgião gastroenterologista Áureo Ludovico ganhou judicialmente o direito de realizar um tipo de cirurgia desenvolvido por ele mesmo que tem eficácia comprovada para pacientes de diabetes. Coincidência ou não, a Veja publicou sobre o caso na Coluna Data, da sessão Panorama, também esta semana. De acordo com o médico, o prazo de recurso termina na próxima semana, quando teremos novas notícias sobre o caso.
As novidades tecnológicas no tratamento do diabetes são várias. Desde bombas de insulina dotadas de sistema de inteligência até pâncreas artificiais, todo tipo de tecnologia tem sido empenhada nos esforços científicos contra o diabetes. A grande novidade agora é a Tresiba (degludeca), fabricada pelo Laboratório Novo Nordisk, um tipo de insulina que tem ação de até 40 horas e acabou de ser aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Segundo o médico endocrinologista Nelson Rassi (foto), estas ferramentas são interessantes no controle da doença e aumentam a qualidade de vida do paciente, o que não exclui a necessidade de atividades físicas e uma alimentação saudável e equilibrada. Ele cita outro tipo de medicamento também citado na reportagem da IstoÉ, que tem mecanismo de ação distinta, atuando nos rins e impedindo a reabsorção de açúcares que acabam sendo eliminados pela urina.
Foto: Sandra Ramos
Foto: Sandra Ramos

De acordo com Rassi, esta linha de produtos farmacológicos, que serão lançados nos próximos meses no Brasil com o nome de Forxiga pelo Laboratório AstraZeneca e Invokana, pela Jannsen, traz uma solução interessante, mas o médico que optar por este tratamento deve estar atento aos efeitos colaterais. Segundo o especialista, o aumento do açúcar na urina favorece o desenvolvimento de infecções do trato urinário e candidíase, entretanto a droga melhora o controle e traz redução de peso e de pressão arterial. “Estes medicamentos prometem. São realmente interessantes. Mas os médicos que optarem por estes tratamentos devem ter cuidado com isto”, alerta.
Contradições
A indicação cirúrgica nestes casos gera certa contradição no meio médico. Por se tratar de uma intervenção, segundo Nelson Rassi, a cirurgia deveria ser indicada para pacientes obesos ou que não respondem mais à medicação. “É um procedimento bastante eficaz, talvez o mais eficaz, mas é agressivo e tem efeitos colaterais. Nem todos respondem bem à operação”, comenta.
Por ser uma cirurgia com altos índices de resolução do diabetes, de 95% a 100%, segundo entrevista concedida por Áureo Ludovico ao Diário da Manhã sobre o procedimento, poderia se estender perfeitamente para pacientes diabéticos de peso normal.
O ex-senador Demóstenes Torres foi submetido à cirurgia pelas mãos de Áureo Ludovico e conta que ganhou uma nova vida. “Hoje, não posso fazer extravagâncias, mas nem preciso tomar remédio porque meus índices são normais. É importante ter uma vida regrada, mas esta foi uma oportunidade de ter uma segunda vida. É ter juízo e administrar”, diz.
A intervenção cirúrgica de Áureo Ludovico é uma operação que interpõe parte do íleo entre o duodeno e o jejuno, partes do intestino delgado. Chamada de gastrectomia vertical associada a interposição de íleo, a operação, realizada há 15 anos, consegue regular a ação dos hormônios envolvidos no controle das taxas de açúcar no sangue.
Investigações
Em fase embrionária, avança também a bioengenharia no tratamento do diabetes. Segundo Nelson Rassi, no campo das células tronco, apesar do anunciado pela revista, não haverá novidades aplicáveis nos próximos cinco anos e mesmo quando houverem, obviamente terão eficácia para pacientes do tipo 1 da doença, os que desenvolvem sua versão autoimune. Neste tipo, a doença é deflagrada pelo próprio sistema imunológico do paciente. O tipo 2 do diabetes é desenvolvido pelo estilo de vida sedentário e está associada à sobrepeso, sem que isto, entretanto, seja uma regra.
A Universidade de São Paulo está realizando pesquisa usando células tronco para tratar o tipo 1 da enfermidade. Como este gênero da doença é caracterizado pelo ataque do sistema imunológico às células beta, produtoras de insulina, a ideia é criar um novo sistema imunológico livre da falha. Até agora, de 25 diabéticos submetidos à experiência, três estão curados da doença. A nova fase da pesquisa avaliará porque alguns das cobaias tiveram que voltar para as aplicações de insulina após algum tempo.

Saiba mais

Observe o que a medicina e a ciência têm feito à respeito:
Insulina de ação ultraprolongada: 
O Laboratório Novo Nordisk criou a primeira insulina com efeito de até 40 horas. Por causa desta característica, dá mais flexibilidade nos horários de aplicação pelo paciente. Foi liberada pela Anvisa no último dia 17.
Remédios que atuam nos rins: 
O Forxiga e o Invokana são os primeiros medicamentos de uma nova classe de drogas que agem diretamente sobre os rins, impedindo a reabsorção de glicose pelos órgãos. Além de controlar a glicemia, promovem perda de peso e ajudam no controle da pressão arterial. O primeiro está liberado pela Anvisa e o segundo está em fase final de aprovação.
Insulina Oral: Há algumas em estudo. A desenvolvida pela empresa israelense Oramed encontra-se em estudo clínico aprovado pelo Food and Drug Administration, órgão do governo americano responsável pela liberação de drogas nos EUA.
Células Tronco: Trabalho conduzido pela Universidade de São Paulo usa células tronco extraídas da medula óssea para impedir que o sistema de defesa do corpo ataque células produtoras de insulina. Dos 25 pacientes que participaram do estudo, três estão livres das injeções de insulina. Um deles há nove anos.
Vacinas: Uma equipe da Universidade de Stanford (EUA) se prepara para testar em mais de 200 pessoas uma vacina que impede a destruição das células fabricantes de insulina. Em estudo anterior, com 80 pacientes, os resultados foram positivos. Na Finlândia, cientistas querem criar um imunizante contra vírus associados ao tipo 1 da doença.
Infusão Inteligente de Insulina: Chega nos próximos meses ao Brasil, um sistema inteligente de infusão de insulina. Desenvolvido pela Medtronic, ele monitora os índices de glicemia, avisa se a concentração está caindo mais do que deveria e interrompe o fornecimento do hormônio se a glicose desabar. Tudo isso para evitar crises de hipoglicemia (falta de açúcar no sangue).
Monitores de Glicemia: Estão cada vez mais sofisticados. A Sanofi Diabetes, em parceria com a empresa Agamatrix, por exemplo, criou o IBGStar. Ele mede a taxa de açúcar e pode ser conectado a i-Phone ou a i-Pad Touch. A ideia é transferir as informações aos aparelhos e ajudar o paciente a criar um diário digital das variações de suas concentrações glicêmicas. Os dados podem ser enviados para o médico e familiares.
Pâncreas Artificial: Em desenvolvimento. Um deles está sendo criado na Inglaterra. Implantado no abdome, contém um reservatório de insulina. Ela é liberada de acordo com a taxa de glicose no sangue. 

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