Viver e conviver com o diabetes
* Mário Cândido de Oliveira Gomes
Viver com aumento de açúcar no sangue não é fácil, porém conviver é preciso, tendo em vista uma melhor qualidade de vida. Depois do primeiro impacto de "você é diabético" vem a curiosidade sobre o que é esta doença, como surge e porque aparece em certas pessoas. O diabetes mellitus é um distúrbio no metabolismo do açúcar, no qual a glicose alta no sangue passa para a urina sem ser usada como nutriente pelo organismo. As células do corpo para funcionar necessitam de energia e calor, obtidos através da conversão dos alimentos.
Tais alimentos são constituídos de três nutrientes principais: carboidratos, cuja transformação libera glicose (açúcar) no sangue, proteínas, que fornecem aminoácidos e gorduras, que se degradam em ácidos graxos. A energia pode ser retirada destas três categorias de alimentos, porém os carboidratos são mais importantes pela rapidez e facilidade de conversão.
A glicose fica armazenada no fígado, que libera o açúcar para o sangue nos intervalos das refeições ou quando o organismo precisa de energia, mantendo sempre uma taxa constante em torno de 70 a 90mg/dL. A glicose, para penetrar na célula, precisa de ajuda da insulina, que é uma substância fabricada pelo pâncreas. Quando o nível de açúcar aumenta no sangue após uma refeição, a quantidade de insulina também aumenta, para que o excesso de glicose seja rapidamente retirado da circulação, voltando ao nível normal.
O estoque de insulina é constantemente renovado pelo pâncreas, pois a insulina utilizada sofre degradação, sendo eliminada. A doença surge quando o pâncreas deixa de produzir insulina (diabetes tipo 1) ou pela incapacidade das células (musculares e adiposas) em aproveitar a insulina produzida (diabetes tipo 2). Em ambos os casos o nível de glicose fica sempre alto no sangue (glicemia acima de 126mg/dL), porém o açúcar não penetra nas células, pela redução ou insatisfatório aproveitamento da insulina. Neste caso, as células passam fome, sem o necessário aporte de energia para seu funcionamento.
No diabetes tipo 1 (crianças e jovens) não se sabe a causa da destruição das células produtoras de insulina no pâncreas (ilhotas de Langherans), mas parece que o mecanismo é auto-imune, enquanto no tipo 2 é desconhecido o porquê da ação reduzida da insulina (resistência insulínica), mas parece existir um componente genético relacionado à obesidade. O diabetes tipo 2 surge geralmente após os 40 anos de idade, afeta de 5% a 10% da população e é mais frequente nos obesos, enquanto o tipo 1 é mais grave, aparece nos primeiros anos de vida e apresenta evolução variável.
Existem dois tipos de diabetes: mellitus e insipidus, que é um distúrbio da neurohipófise, com deficiência do hormônio diurético, acarretando incapacidade de produzir urina concentrada. O quadro clínico do mellitus varia com o tipo: no 1 existe perda de peso, desidratação, presença de cetonúria, hiperventilação e início recente, enquanto no 2 ocorre obesidade, perda de peso e início insidioso. Em ambos os tipos aparecem poliúria (urina em grande quantidade), polidipsia (sede intensa), fraqueza, furúnculos, prurido na genitália e infecções, principalmente por fungos (candidíase).
O tipo 2 pode ser assintomático por muitos anos, porém, quando o nível de glicose ultrapassa 180mg/dL, instalam-se os sintomas. Um bom controle do nível de açúcar no sangue retarda ou previne o aparecimento de importantes complicações, como aumento do risco de ataque cardíaco (angina, infarto etc), problemas circulatórios, perda da sensibilidade nas pernas e pés, distúrbios visuais (retinopatia) e doenças renais (nefropatias). Daí a importância do tratamento, que deve ser feito com dieta, exercícios e medicamentos, como insulina ou drogas que estimulam a produção de insulina e facilitam a entrada de glicose nas células.
O tipo 1 deve sempre ser tratado com insulina, enquanto o tipo 2 pode ser controlado com estimulantes do pâncreas ou que reduzem a resistência à insulina. Na dieta usar açúcares de absorção lenta (batata, arroz, vegetais etc) em relação aos rápidos (geleias, doces, sucos de fruta etc). O ideal é fazer de 4 a 6 refeições/dia, mantendo horários rígidos e quantidade adequada para não engordar, dando preferência a pães de fibra ou integral, verduras e legumes, evitando gorduras, açúcares e álcool.
Os exercícios são fundamentais (qualquer tipo), pois aumentam a sensibilidade do corpo à insulina, diminuindo o nível de glicose no sangue. Infelizmente podem ocorrer efeitos colaterais durante o tratamento, como a hipoglicemia, com numerosos sintomas desagradáveis. Para o controle da glicemia no sangue ou urina existem numerosos tipos de aparelhos (glicofita etc), todavia, é sempre bom procurar um profissional duas ou três vezes por ano, a fim de detectar complicações ou desvios de controle.
* Artigo extraído do livro "Doenças, conhecer para prevenir" (volume 1 - Ottoni Editora - págs. 215 a 217), de autoria do médico infectologista Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos no dia 6 de junho de 2013.
Notícia publicada na edição de 27/06/13 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 6 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
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