A Necessidade Imediata de um Novo Censo Nacional de Diabetes
Dr. Augusto Pimazoni Netto
Editor Médico do COIDEC Diabetes News
Comentário para: pimazoni@uol.com.br
No mês de julho último, o Censo Nacional de Diabetes
completou 18 anos de existência, desde o encerramento da coleta de dados realizada
no período de novembro de 1986 e julho de 1988. Do ponto de vista de
metodologia de pesquisa epidemiológica, o Censo Nacional de Diabetes foi uma
verdadeira obra-prima, conduzido sob a coordenação técnica do Prof. Laércio
Franco e sob a coordenação administrativa e gerencial do Dr. Geniberto Paiva
Campos (Ministério da Saúde) e do Dr. Reginaldo Albuquerque (Conselho Nacional
de Pesquisa - CNPq) e com a colaboração de uma motivada equipe de profissionais
de saúde que colaborou com a elaboração do protocolo e sua efetiva
implementação nos nove centros urbanos distribuídos pelo território nacional. A
grande pergunta que todos nós fazemos hoje em dia, infelizmente, continua sem
resposta: qual a validade atual de dados epidemiológicos colhidos há 20 anos, principalmente
em relação a uma patologia como o diabetes que vem apresentando proporções
epidêmicas nessas últimas duas décadas?
Os dados de 1988 já demonstravam uma prevalência média de
7,6% na população urbana brasileira entre 30 e 69 anos, com nada menos de um
adicional de 7,8%, nessa mesma faixa etária, que apresentava tolerância
diminuída à glicose. Assim, a dimensão real do problema, incluindo os
portadores de diabetes e de pré-diabetes, de acordo com o conceito atual,
aponta para uma prevalência de nada menos que 15,4% de portadores de condições
crônicas que promovem um risco elevado de complicações cardiovasculares.
Mais recentemente, um estudo regional conduzido pela equipe
da Dra.Maria Tereza Torquato e publicado em 2003, utilizando a mesma
metodologia do Censo Nacional de Diabetes, mostrou uma prevalência média de
diabetes de 12,1% e de tolerância diminuída à glicose (pré-diabetes) de 7,7%,
perfazendo a cifra integrada de 19,8% de portadores de diabetes e de
pré-diabetes, na faixa etária de 30 a 69 anos. Se compararmos a prevalência
integrada de diabetes + pré-diabetes mostrada pelo Censo de Diabetes de 1988
(15,4%) com a prevalência integrada mostrada pelo estudo de Ribeirão Preto
(19,8%), podemos extrapolar uma evolução de 28,5% na prevalência de condições
clínicas relacionadas ao diabetes. A outra pergunta que não quer calar é a
seguinte: poderíamos utilizar a prevalência do estudo de Ribeirão Preto para
melhor refletir a provável realidade da dimensão do diabetes no Brasil como um
todo?
Do ponto de vista acadêmico, essa extrapolação talvez possa
ser ou parecer uma heresia, porém, do ponto de vista prático, considerando a evolução
epidêmica do diabetes em todo o mundo, os números de Ribeirão Preto certamente
refletem a situação atual do diabetes no Brasil de uma forma muito mais precisa
do que os dados originais do Censo Nacional de Diabetes. Aliás, apenas para
validar esta extrapolação, menciono os dados do trabalho de Geiss e
colaboradores, publicado no American Journal of Preventive Medicine de maio de
2006, segundo o qual a incidência de diabetes diagnosticado durante um período
de apenas seis anos, de 1997 a 2003, aumentou nada menos que 41%.
Em resumo, está mais do que justificada a necessidade de
realização do Segundo Censo Nacional de Diabetes, cuja viabilidade somente será
possível com o aporte de recursos de diferentes organismos governamentais e da
iniciativa privada, como aconteceu com o Censo de 1988. Com a palavra os
coordenadores do primeiro Censo Nacional de Diabetes e o Ministério da Saúde,
na pessoa da Dra.Rosa Sampaio, Coordenadora Nacional de Hipertensão e Diabetes.
A tabela a seguir mostra a matriz de cálculo para a
estimativa da população de portadores de diabetes no Brasil, utilizando-se a
prevalência do estudo de Ribeirão Preto (12%) ao invés da prevalência do Censo
Nacional de Diabetes (7,6%), ambas as cifras para a faixa etária de 30 a 69
anos. Certamente, esta estimativa também é conservadora, uma vez que considera
apenas o aumento da prevalência na faixa etária de 30 a 69 anos. Com o aumento
da sobrevida da população de idosos, é de se esperar que, atualmente, a
prevalência de diabetes na população acima de 69 anos seja maior do que aquela
registrada no censo de 1988 e que consta desta matriz de cálculo.
Estimativa da população diabética em 2006 - prevalência de
12%
Estimativa total de habitantes: 190.000.000 em 2006
Distribuição por faixa etária (1)
Prevalência do Diabetes (2)
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