quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Nada deve ser proibido, nem mesmo o açúcar”, alertam médicos sobre diabetes

Nada deve ser proibido, nem mesmo o açúcar”, alertam médicos sobre diabetes

Na segunda reportagem da série especial sobre a doença, saiba o que mudou no tratamento


Fabiana Grillo e Vanessa Sulina, do R7
O segredo é comer pouco, de tudo e várias vezes ao diaThinkstock
“Controlar a glicemia”, respondem os médicos ao serem questionados sobre o segredo de conviver bem com o diabetes. Mais do que o remédio, alcançar este objetivo exige força de vontade e determinação para mudar hábitos de vida. Na teoria parece simples, mas executar a tarefa é um dos principais desafios do tratamento.
Após a confirmação do diagnóstico de diabetes, é comum as pessoas acreditarem que basta tomar um remedinho para a doença parar de incomodar. Além disso, a maioria entra em desespero ao pensar que o pão francês do café da manhã, a macarronada de domingo e a sobremesa após a refeição serão substituídos por uma dieta restrita, insossa e sem nenhuma pitada de açúcar.

Em entrevista ao R7 para a série especial, o endocrinologista Márcio Krakauer, presidente da Adiabc (Associação de Diabetes do ABC) e coordenador da campanha do Dia Mundial do Diabetes da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), garante que esta realidade não faz mais parte do universo de quem tem diabetes.
— Com o avanço do tratamento, a técnica de contar carboidratos e o conhecimento da doença, nada mais é proibido, nem mesmo o açúcar. Para conviver bem com a doença e prevenir as temidas complicações, é fundamental adotar hábitos de vida saudáveis.
O excesso de açúcar no sangue — sinônimo do mau controle da doença — pode desencadear uma série de complicações em todo o corpo, como retinopatia diabética (lesão da retina do olho), nefropatia (alteração da função renal), problemas cardiovasculares, falta de sensibilidade nos membros inferiores (neuropatia) e até impotência sexual.  
O primeiro passo para manter uma boa relação entre rotina diária e controle glicêmico é buscar informação, entender a doença e aceitá-la. A endócrino-pediatra Denise Ludovico, da ADJ Brasil (Associação de Diabetes Juvenil), avisa que o nome deste “relacionamento” é educação em diabetes e tende a facilitar a adesão ao tratamento de forma natural.
— Costumo dizer que o diabetes precisa ser adaptado à vida do paciente e não ele se adaptar ao diabetes. A alimentação deve priorizar o paladar de quem vai comer, assim como o exercício físico deve ser escolhido de acordo com a aptidão e o prazer de quem vai praticar. Nada precisa ser imposto, mas negociado de acordo com o estilo de vida de cada paciente.
Para Krakauer, o segredo é comer pouco, de tudo e várias vezes ao dia. Ele acrescenta que manutenção do peso ideal, controle do estresse, da pressão arterial e do colesterol, assim como abandono do cigarro e consumo moderado de bebida alcóolica também entram em cena para tratar o diabetes tipo 2.
— O remédio, a metformina em geral é a mais usada, não faz milagre. Para não deixar que as taxas de glicemia se assemelhem a uma montanha-russa, ou seja, fiquem muito altas [hiperglicemia] ou muito baixas [hipoglicemia], é fundamental incorporar a vida saudável.
As temidas picadas de insulina
Nem todo diabético precisa de insulina. Ela é fundamental para a sobrevivência das pessoas com diabetes tipo 1, que não a produz. Este hormônio, originalmente produzido no pâncreas, ajuda a glicose a sair da corrente sanguínea e entrar nas células, fornecendo energia para o organismo.
No entanto, o pavor se instala quando o paciente descobre que a administração do medicamento é feito por meio de injeções diárias. Você leu certo, no plural, já que geralmente são no mínimo quatro, explica a endócrino-pediatra da ADJ Brasil.
— A quantidade depende da idade e do estilo de vida da pessoa. No entanto, a maioria associa o uso da insulina à gravidade da doença, o que é um mito. Há pessoas mais saudáveis com diabetes do que sem nenhum problema de saúde.
O SUS fornece as chamadas insulinas humanas (NPH e regular), mas o endocrinologista Balduíno Tschiedel, presidente da SBD, diz que o mercado já disponibiliza drogas mais modernas.
— Dá para tratar o diabetes com o que o governo fornece, mas em algumas situações é imprescindível usar outras terapias. Muitas vezes, seria até mais vantajoso e barato para os cofres públicos. Isso evitaria a judicialização excessiva, ou seja, diminuiria os gastos com as ações de pedidos destes medicamentos à Justiça.
O especialista defende uma parceira entre governo e sociedades médicas para analisar quais pacientes realmente precisam “deste ou daquele tipo de tratamento”.
— Assim, conseguiríamos atender mais gente sem onerar demais as contas públicas. Se o paciente usa pouca insulina, por exemplo, é mais barato fornecer a caneta para aplicação do que a seringa, porque a quantidade do refil é menor e não haveria desperdício.
Além do uso diário de insulina para tratar o diabetes tipo 1, os especialistas reforçam que alimentação balanceada e prática regular de atividade física não podem ser esquecidas.
A cura
Segundo os especialistas, a cura do diabetes está muito distante. Tschiedel lembra que “quando a insulina foi descoberta em 1921 e o primeiro ser humano usou, ela foi vista como a cura da doença”.
— Regenerar um órgão que está absolutamente destruído pode ser possível com o uso de células-tronco. Um sonho. Então, como ainda não temos a cura, o ideal é se tratar muito bem com insulina. Até porque se surgir alguma coisa nova, a pessoa precisa estar com a saúde boa para poder se beneficiar.
Sobre a cirurgia bariátrica ser a solução do diabetes tipo 2, Krakauer enfatiza que os estudos mostram remissão da doença durante dois ou três anos”.
— Falar em cura é totalmente errado. A cirurgia pode controlar a doença. De qualquer forma, a prevençã
o é o melhor caminho para driblar o diabetes tipo 2.

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