O dr. Carlos Eduardo Couri explica como a tuberculose e o diabetes – duas doenças aparentemente tão diferentes – estão associadas. Aprenda neste incrível texto!
Há cerca de dois meses atendi um paciente diabético em meu consultório que se queixava de tosse seca e indisposição leve. Ele já era meu paciente há vários anos e disse que ele que poderia se tratar de uma gripe que deveríamos observar. Ele manteve apetite normal, conseguia fazer exercícios e trabalhar normalmente. Entretanto, com o passar das semanas os sintomas continuavam. Devido à persistência dos sintomas aprofundei os exames e, para minha surpresa, dei o diagnóstico detuberculose para este paciente. Havia um bom tempo que não atendia um paciente com tuberculose resolvi rever os dados científicos da associação entre tuberculose e diabetes.
Dados epidemiológicos recentes apontam para a associação de duas epidemias silenciosas: aepidemia de DIABETES e a de TUBERCULOSE.
Esta associação é ainda mais preocupante quando detectamos que a maioria dos casos de tuberculose do mundo se encontra em países em desenvolvimento (países que concentram 80% dos casos de diabetes em adultos no mundo).
Considerada como uma doença “ruim” e letal no início do século XX, muito estigma sempre existiu sobre o portador da tuberculose. Felizmente, com a melhora das condições sanitárias e com o desenvolvimento dos antibióticos, a tuberculose passou a ser uma doença controlada e curável.
Um fato novo, porém, fez elevar os números de casos de tuberculose na década de 80 e 90: a AIDS. Como os portadores da AIDS possuem deficiência imunológica, eles ficam mais suscetíveis à tuberculose e com isso começou a haver uma nova epidemia mundial. Este epidemia foi novamente controlada com melhor tratamento e prevenção da AIDS mundo afora.
Recentemente, epidemiologistas detectaram uma nova associação: a da tuberculose e diabetes.
Não temos dados atuais brasileiros e por isso citarei alguns dados internacionais. Na Índia, em 2010 estima-se que cerca de 12,6% dos casos de Tuberculose ocorreram em pessoas diabéticas e isto representa cerca de 250.000 novos casos somente naquele ano. A tendência é que, em 2030, 16% dos diabéticos indianos adquiram tuberculose.
Dados semelhantes são vistos na China e em países africanos e todos com tendência de crescimento até 2030.
Para entender melhor esta associação entre diabetes tuberculose, especialistas se reuniram em Londres em Abril de 2013 para criar um time chamado TANDEM. Por meio deste estudos, poderemos saber qual a melhor maneira de fazermos a pesquisa de tuberculose nas pessoas com diabetes e também rastrear diabetes nas pessoas com tuberculose.
Apesar de sabermos que a pessoa com diabetes tem maior predisposição a infecções, o estudo TANDEM tentará elucidar os mecanismos exatos que levam à união nefasta destas duas doenças.
Vamos aguardar os resultados nos próximos anos.
Enquanto isto, devemos ficar atentos com sintomas de tosse persistente por mais de 3 semanasassociada a sintomas como perda do apetite, febre, desânimo e fraqueza.
E não custa nada relembrar: ter uma alimentação saudável e uma atividade física regular, associadas a um adequado controle glicêmico, ajudam a prevenir inúmeras doenças.
Leia mais sobre vacinação contra pneumonia e contra gripe neste link.
PhD em Endocrinologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, pesquisador da Equipe de Transplante de Células-Tronco da USP-Ribeirão Preto. Conceituado e premiado autor de pesquisas – inclusive em publicações internacionais -, materiais educativos e livros sobre o diabetes, em especial o tipo 1, e terapias com células-tronco.
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