Conheça a história de vida e de superação de Aracy Berocan Leite, que completou em março 50 anos de diabetes! Aracy é Arquiteta e Urbanista, formada pela Universidade de Brasília, E vive uma vida feliz e saudável, em perfeita harmonia com o seu diabetes!
OLHANDO PARA TRÁS
Ao completar cinquenta anos com diabetes na última Semana Santa, minha vontade inicial era realizar uma grande festa para comemorar esta data, com os amigos, familiares, médicos que me acompanharam; afinal, todos os meus queridos. Já tinha até escolhido o lugar – Pirenópolis, uma cidade histórica de Goiás, famosa pela sua natureza, cheia de lindas cachoeiras, uma cidade turística de grande tradição histórica, onde morei por três anos (de 2007 a 2010).
Uma cidade que eu amo e tenho ainda lembranças felizes de infância, dos finais de semana familiares em “Piri”, como carinhosamente é chamada. Papai (Ubirajara Berocan Leite), mamãe (Stella Dalva Leite) e seus amigos juntavam diversas famílias numa grande turma e fazíamos deliciosos piqueniques às margens do Rio das Almas. Naquela época, morávamos em Anápolis, minha cidade natal, próxima dali.
Infelizmente, não foi possível realizar a festa, pois precisei fazer uma cirurgia cardíaca no ano passado e ainda estou em processo de recuperação, precisando manter alguns cuidados nessa fase final do pós-operatório. Esta semana, fui à cardiologista e ela me liberou para realizar as atividades de uma vida normal – malhar, trabalhar, dirigir, beber, comer, rezar e amar… Mas, apesar disso, não quero quebrar o processo em seu final, ainda preciso de alguma cautela.
Na ausência da festa imaginada, pensei em celebrar desenvolvendo um texto sobre minha experiência. O meu principal objetivo é mostrar aos novos diabéticos, àqueles diabéticos rebeldes e principalmente às mães de crianças que descobrem a doença ainda muito novas que é possível viver saudável, feliz e por muito tempo.
Tenho 65 anos e agora, nesta Semana Santa (março/2013), completei 50 anos de diabetes. Na época que descobrimos o problema, eu estudava interna num colégio francês em São Paulo, o Sacré-Coeur de Marie. Estava com quatorze anos e, na véspera da Semana Santa, pedi muito para meus pais se poderia passar a Páscoa em Goiânia, a cidade onde minha família morava, e estava envolvida com o lançamento do negócio de maior paixão do meu pai – o Clube Jaó, com muitas atividades e eventos.
Tinha ido para o colégio no final de fevereiro e, em fins de março, já havia perdido 12 quilos. Não conseguia entender o mal-estar durante todo dia e porque estava bebendo tanta água e fazendo tanto xixi. Perguntei para as freiras e não consegui uma boa resposta: “Na sua idade é assim mesmo!”, respondiam. Não falei nada aos meus pais porque achava que realmente não era nada grave.
Aracy aos 15 anos, quando foi diagnosticada com diabetes
Felizmente, papai permitiu e pediu a um amigo, Nicodemus, para buscar a gente em São Paulo. Yara, minha saudosa irmã, e Beth Pinheiro, minha prima, que também estudavam no internato, foram minhas companheiras de viagem. No início da década de 1960, as estradas entre São Paulo e Goiânia não eram tão boas assim. Foi uma aventura de quase dois dias e a toda hora era necessário parar porque, “a Cy quer fazer xixi”…
Chegando a nossa casa, mamãe ficou impressionada com minha magreza. “Você está fazendo regime?”, perguntou. “Você não pode fazer isso, você não está bem!”. E logo foi preparar um superlanche com todas as guloseimas que nós, as viajantes, mais gostávamos: sanduíches, queijos, presuntos, sucos, biscoitos, bolos, doces, sorvetes, além de outros carboidratos e calorias. Na manhã do segundo dia, fomos curtir a piscina, e num salto mais rápido quase desmaiei. Não conseguia nadar e nem sair da piscina, pedi ajuda para os amigos. Tonta, desanimada, com dor de cabeça…
Minha mãe, muito preocupada, me levou imediatamente ao médico: Dr. José Fleury no Hospital Santa Helena. Ao explicar-lhe meus sintomas, o médico já percebeu logo o problema e coletou material para realizar exames de sangue e de urina. Ao retornar, Dr. Fleury me encontrou praticamente entrando em coma glicêmico, com a taxa de 487mg/dl e cetoacidose. Segundo esclarece o Dr. Drauzio Varela:
“Cetoacidose acontece quando há falta de insulina e o corpo não consegue usar a glicose como fonte de energia, as células utilizam outras vias para manter seu funcionamento. Uma das alternativas encontradas é utilizar os estoques de gordura para obter a energia que lhes falta. A cetoacidose diabética é uma complicação aguda grave, potencialmente mortal. No diabetes tipo 1, ela pode ser a primeira manifestação da doença”.
“Ela está diabética, vamos chamar Dr. Joffre Marcondes Rezende, ele é um gastroenterologista”, sugeriu Dr. Fleury. Naquele momento, parecia que o mundo ia acabar para mim. O sofrimento dos meus pais com a notícia foi imenso. Mas, felizmente, os médicos foram calmos, extremamente didáticos e conseguiram acalmar os dois. Meus pais acharam que eu iria morrer: “diabetes não tem cura”, pensavam.
Sou grata a esses competentes profissionais da medicina em minha cidade, que atenderam a mim e a toda minha família aflita, com muito amor e paciência. Agradeço especialmente ao Dr. Joffre, que me ensinou a ser amiga do meu diabetes. “Não é uma doença, é uma disfunção. Você tem que se acostumar a tomar sua insulina, tal como você escova seus dentes. O importante é cuidar da alimentação, fazer exercícios regularmente, tomar insulina e medicamentos nos horários recomendados e, assim, poderá desenvolver uma vida saudável, longa e feliz.” disse ele.
Nunca esquecerei essas palavras naquele primeiro contato com o Dr. Joffre, ainda no hospital. Ele foi bastante firme ao passar seus conhecimentos sobre o problema, transmitiu muita confiança em sua linguagem e nos apresentou pensamentos bastante modernos e positivos para a época, o que foi essencial para minha aceitação do diabetes.
Diante do histórico, dos números citados em tantas reportagens e livros e da realidade da descoberta de uma doença grave, qualquer pessoa fica assustada quando se vê tendo de encarar a sua nova vida. O início do diabetes é a fase mais desafiante de todas. Os primeiros dias, os primeiros meses, as primeiras aplicações e exames e principalmente as primeiras hiperglicemias e hipoglicemias. É muito difícil esquecer!!!
Na época em que descobri ser diabética, no início da década de 60, era realmente muito complicado um bom controle dessa disfunção. Os testes de glicose eram realizados com a urina através de fitas reagentes que mudavam de cores, e esses nem sempre eram muito precisos. As glicemias eram feitas por meio de exames laboratoriais em clínicas ou hospitais, poucas vezes por mês, e as insulinas eram aplicadas somente uma vez por dia.
As primeiras seringas eram de vidro e precisavam ser esterilizadas a cada aplicação, as agulhas usadas para injetar a insulina eram grossas e a picada muito dolorida. Não existia nada dietético nas prateleiras dos mercados e dificilmente se conseguia um suco de frutas sem açúcar num restaurante, lanchonete ou padaria, enquanto a dieta recomendada pelos médicos proibia terminantemente todo e qualquer tipo de açucares e carboidratos.
MEUS TRATAMENTOS E COMPLICAÇÔES
No início de meu tratamento, quem me orientou e me acompanhou por quase trinta anos foi o já citado gastroenterologista Dr. Joffre Marcondes Rezende, ilustre Professor Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
(UFG), meu segundo pai. Gentil, amável, paciente, ele me ensinou a me tratar com cuidado, alimentar melhor e ser “amiga do meu diabetes”, como ele próprio me dizia.
Naquela época, a alimentação de nossa casa não usava muitas verduras e legumes. Frutas, como as crianças gostavam, sempre estavam presentes: bananas, laranjas, maçãs e outras mais comuns. À mesa, era aquela comidinha goiana básica: arroz, feijão e bife. Quando muito, uma saladinha de tomate com alface. Dr. Joffre sentou-se comigo e com minha mãe e nos deu uma aula de como se fazer uma boa salada e realizar uma alimentação mais saudável. Enriquecer a dieta diária com legumes, verduras e frutas diferentes, usar mais sucos que refrigerantes, mais frutas que doces e bolos. Além disso, fazer alguma atividade física regular e, como tínhamos piscina em casa, ele recomendou natação pelo menos três vezes por semana.
O mais difícil foi o uso da insulina. Inicialmente minha mãe aplicava as injeções, mas depois, por uma questão de independência e facilidade, Dr. Joffre me explicou todos os detalhes de como, onde e quando eu mesma devia aplicar a insulina em mim mesma. Suas orientações eram simples e fantásticas, eu adorava conhecer mais e mais sobre diabetes. Lembro-me de um livro, “Diabetes Sem Medo”, de Leão Zagury e Tânia Zagury, que ele indicou e que até hoje existe, refeito e repaginado pelas editoras brasileiras.
Guardo um sentimento de gratidão a esse famoso médico, mineiro de nascimento, mas goiano de coração, por tudo que fez em minha vida e na vida de todos que passaram em suas mãos. Dr. Joffre foi muito importante nos primeiros anos do meu problema com o diabetes. Ele também me acompanhou durante inúmeros anos, quando nos tornamos grandes amigos, amizade essa estendida entre os seus e os meus familiares.
Ao descobrir o diabetes, meus pais perceberam que era preciso que eu saísse do internato de São Paulo e voltasse para Goiânia. As colegas me ligavam perguntando “como você descobriu esse diabetes? Ensina para nós, também queremos sair do internato”, essas coisas de criança… Casei-me muito nova e logo fiquei grávida, meus pais se preocuparam muito que surgisse algum problema com a gravidez. Graças a Deus, tive três filhos normais e todos com gestações saudáveis. Nasceram grandes, (como geralmente nascem os filhos das diabéticas) fortes e muito bonitos: Airton Junior (o Tom), André e Adriano.
Em novembro de 1968, minha família teve uma grande perda que desequilibrou o emocional de todos nós. Yara, minha segunda irmã, faleceu num acidente de carro, ocorrido muito perto de nossa casa. Foi um grande drama que me trouxe um descontrole enorme da glicemia, num momento muito difícil, porque estava grávida do André, meu segundo filho. Surgiram problemas de pressão baixa, desmaios e foi complicado compensar a glicemia. Toda família ficou abalada por muito tempo.
Felizmente André chegou, em abril, gordinho e alegre, como uma luz para minimizar a dor de todos, principalmente dos meus pais. Assim, a alegria voltou a reinar naquela casa. Lógico que nos lembrávamos da Yara com amor e muita saudade, mas as lembranças dos momentos bons passaram a ser mais constantes. Mamãe foi passar umas férias no Rio de Janeiro e levou toda a família para tentar esquecer o pior e aliviar as tensões.
Quando a família voltou, logo recomeçou a tomar frente na organização de eventos do Clube Jaó, pois a gente não poderia parar, afinal essas eram as atividades principais do negócio de meus pais. Trabalhei algum tempo no Jaó como administradora do Jaozinho e também ajudando minha mãe na organização de eventos. Era um tempo de muitos festejos, grandes jantares, almoços, formaturas, casamentos, shows, carnavais, réveillon, festas de entidades oficiais, entre outras. Foi um tempo muito divertido, mas extrapolei um pouco na alimentação e na bebida. Entretanto, sempre com o cuidado de manter a glicemia sob controle.
Em 1973, já desquitada, com os meninos ainda pequenos, resolvi voltar a estudar. Por um ano, fiz um cursinho em Goiânia e passei bem no vestibular, me mudando para Brasília, onde cursei Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Brasília (UnB). Naquela época, minha vida era muito atribulada. Cuidar de casa, com três filhos, trabalhar e ainda fazer faculdade não foi fácil.
E com o tempo cada dia mais curto, acabei por abandonar as atividades físicas, tentando, mesmo assim, manter a glicemia controlada. Entretanto, os equipamentos e a tecnologia não ajudavam muito e mantê-la estabilizada, como é possível hoje, era muito mais difícil. Os testes que usavam tiras reagentes para dosar a glicose na urina, o Keto Diastix, eram bem simples. Com uma escala de cor mostrava a quantidade de açúcar eliminado pela urina. Simples, mas sem precisão, deixando o tratamento a desejar e a leitura da glicemia duvidosa. Nessa época, ainda usava se a insulina animal, com somente uma aplicação por dia. Foi muito difícil!
Em 1984, com 36 anos, tive minha primeira grande complicação em consequência do diabetes. Num domingo de sol, acordei animada para curtir uma piscina e um churrasquinho junto com amigos e, quando levantei da cama, senti uma tontura incrível e uma enorme dor no braço esquerdo. Minha amiga Teca (Tereza Hezim, que trabalhou como enfermeira por algum tempo) logo percebeu os sintomas: “Vou ligar para o meu amigo Dr. Diniz, pode ser coração”. Apesar de achar exagero, aceitei sua sugestão, ouvindo a seguinte recomendação do médico: “Leve-a imediatamente para o hospital, realmente são sintomas de infarto, já estou indo para lá”.
Dr. Idunalvo Diniz foi o meu primeiro cardiologista. Durante todo o tempo que permaneci em Brasília, foi ele quem me acompanhou. Dr. Diniz é médico especialista em Medicina Intensiva, exerce a especialidade de Cardiologia, tendo sido inclusive Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Realmente, estava sofrendo sintomas de um infarto e felizmente já estava no hospital e tive toda assistência no momento que ele ocorreu. Fiquei internada no Hospital Presidente Médici por dois dias e segui com Teca no terceiro dia para São Paulo. Brasília demorou muito tempo a ter referências na área hospitalar como hoje. “O melhor hospital de Brasília é a VARIG”, disseram-me no avião. Até hoje, agradeço minha grande amiga Teca por ter salvo a minha vida naquele momento, ela me acompanhou durante todo tempo em São Paulo. Chegamos à capital paulista no histórico dia do comício da campanha das Diretas Já na Praça da Sé. O trânsito na cidade estava infernal e seguimos para o Hospital Samaritano.
Nesse hospital, fiz um cateterismo que mostrou a extensão de meu problema cardíaco: oclusão do ramo descendente anterior da coronária esquerda e moderado comprometimento da função contrátil do ventrículo esquerdo. Apesar dos médicos acharem que deveria fazer uma cirurgia de safena, resisti e fiquei na UTI uma semana, e depois mais dez dias de internação em apartamento. Finalmente me liberaram para fazer um tratamento clínico em casa e voltar depois de seis meses para novos exames. A partir do infarto, mudei um pouco mais minha vida. Comecei a fazer as caminhadas e tentei atualizar meu tratamento do diabetes, com acompanhamento de um médico endocrinologista em Goiânia.
Meu segundo médico de acompanhamento do diabetes, também famoso em Goiás, foi Dr. Nelson Rassi, endocrinologista e metabologista, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Atualmente é Chefe da Divisão de Endocrinologia do Hospital Geral de Goiânia Dr. Alberto Rassi (HGG), além de Preceptor do Programa de Residência Médica dessa Instituição.
No final da década de 1980, Dr. Nelson Rassi instituiu novo tratamento e me ensinou a manusear alguns equipamentos mais modernos para o tratamento do diabetes. Embora ainda estivessem em seu início e em fase de desenvolvimento, passei a tratar a doença com as novas insulinas, os novos exames através do glicosímetro, os novos horários, entre outros procedimentos que facilitaram o controle da glicemia. Até então, eu usava a insulina animal e foi então que a nova insulina humana passou a ser comercializada e recomendada pelos médicos especialistas. Foi em seu consultório que conheci um glicosímetro menor e mais prático do que os que tentei usar anteriormente, muito grandes e caros.
Comecei então a experiência de aplicação de insulinas por mais de uma vez ao dia, uma de duração lenta e uma ou mais vezes da rápida, conforme os exames. Como todas as fases de conhecimento do tratamento, essa mudança foi difícil também, mas logo me acostumei e observei que estava conseguindo um melhor controle. “Você é uma vitoriosa”, comentou certa vez Dr. Nelson, “porque não é fácil completar 25 anos de diabetes”.
Durante dez anos, minha vida transcorreu sem muitos atropelos. Trabalhei muito, em diversas companhias em Brasília, envolvida em projetos de desenvolvimento urbano, meio ambiente, arquitetura e fotografia. Pesquisei, estudei, escrevi, viajei muito, a trabalho e a passeio, participei de cursos e congressos no Brasil e no exterior. Enfim, tive e tenho uma vida mais que normal, uma vida muito agradável. Durante algum tempo, vivi entre Brasília e Goiânia tentando atuar simultaneamente em dois postos de trabalho. Nesse vai e vem da vida, sempre achava muitos momentos de alegria, amigos, amores e motivos para comemorar e festejar e para tomar aquela cervejinha gelada, ou seja, tomar o meu “calmante”, o completar do meu bem-estar.
Meus filhos logo tomaram seus rumos.
Tom casou-se com Andrea, voltou para Goiânia e os dois me deram três lindos netos: Gabriel, Izabella e Rafael. André viajou com dois outros amigos e foi morar em São Francisco, mudou-se de cidade muitas vezes, mas continua até hoje vivendo nos Estados Unidos. Adriano foi para o Alaska num intercâmbio de jovens e, quando voltou, não quis permanecer por aqui, mudando-se alguns anos depois para Atlanta, onde reside até hoje.
Finalmente, no começo dos anos 90, quando meus filhos se foram e fiquei vivendo sozinha em Brasília, meu pai me fez um convite, quase uma intimação, para dedicar mais tempo de meu trabalho no Clube Jaó: “Você vai acabar tendo um acidente nessa estrada!”. Não podia deixar de aceitar seu clamor e acabei voltando para Goiânia.
Ele fez o mesmo com meus outros dois irmãos que viviam fora e acabou convencendo toda a família a trabalhar no Clube Jaó: meu irmão Berocan Filho, que continuava morando em Goiânia, como coordenador gerente; meu irmão Ubajara como coordenador financeiro, tendo meu filho Airton Jr. como gerente financeiro; minha irmã Andyara como coordenadora de marketing; eu como coordenadora técnica; e minha mãe, dona Stella, como diretora social. Evidentemente, todos sob a consultoria dele, meu pai Ubirajara, que veio a falecer pouco tempo depois.
Durante 15 anos, fizemos um bom trabalho no Clube Jaó. Foram construídas muitas novas obras, realizados bons e grandes eventos e atividades, criados novos parques, uma nova escola; enfim, deu-se continuidade a essa importante instituição de Goiânia, na área social, esportiva, educativa e ambiental.
Nesse período, voltei a ter complicações cardíacas. Conforme meu amigo e médico Dr. Hernando, do Departamento de Hemodinâmica do Hospital Santa Genoveva de Goiânia, realizei 10 cateterismos, 7 angioplastias e implantação de 3 stents em 10 anos, quase todos realizados por ele e sua equipe.
Dr. Hernando Nazzetta é especialista em cardiologia, hemodinâmica e cardiologia intervencionista. Foi um dos criadores da Sociedade Brasileira de Cardiologia/Centro Oeste (SBC/CO), atuando em diversas diretorias e eventos dessa instituição. Argentino de nascimento, mas goiano de coração, Dr. Hernando já coordenou diversos congressos de cardiologia em Goiás e no Brasil.
Ele também, como os outros médicos com os quais me tratei, se tornou um grande amigo e acompanhou-me na maioria das intervenções cardíacas que passei. Sempre alegre, contando piadas e casos interessantes nas horas mais difíceis, realizava as operações em clima bastante descontraído.
Numa das primeiras dessas intervenções em Goiânia, quando ainda estava no hospital, precisei da orientação de outro endocrinologista, porque Dr. Nelson não pode me atender, porque estava participando de um congresso fora de Goiânia. Nesse momento, me lembrei do Dr. Haroldo que havia conhecido numa festa de amigos, há algum tempo antes.
Neste dia ficamos conversando sobre diabetes e eu falei que iria fazer uma consulta com ele, só não sabia que seria tão rapidamente e num momento de urgência. Dr. Haroldo prontamente me atendeu, “estou indo para casa às 18 horas e passo por aí antes”. O Hospital Santa Genoveva fica bem próximo à sua casa, no Setor Jaó. Depois desta data, nunca mais deixei meu grande amigo endocrinologia.
Especializado em endocrinologia e metabologia, ele é um médico jovem e conceituado, foi um dos melhores alunos e auxiliar do Dr. Nelson Rassi. Dr. Haroldo me apresentou a outras inovações tecnológicas para o controle do diabetes, entre elas a importância da automonitoração e o uso das insulinas Lantus em combinação com a Humalog.
Para o controle do uso dessas insulinas, o diabético precisa manter a glicemia tão próxima do normal quanto possível. Assim, a monitoração diária e pessoal da glicose sanguínea é indispensável. A quantidade de testes depende de cada paciente, e, com a ajuda de seu médico, ele deve acertar o número de vezes e a dosagem da aplicação das insulinas. Os portadores de diabetes tipo 1 devem fazer a medição no mínimo 4 e, em alguns momentos, até 7 ou 8 vezes por dia, seguindo o que se considera a frequência ideal das medições:
1. Em jejum
2. Após café da manhã (normalmente, horário de ir à ginástica)
3. Antes do almoço
4. Período pós-prandial (duas horas após o almoço)
5. Antes do jantar
6. Antes de dormir (aí se verifica a necessidade de fazer um lanche antes de dormir)
7. Extras – Quando houver alguma dúvida, nos momentos de hipo ou de hiperglicemia.
No dia a dia, eu não faço esse número tão alto de testes diários indicados, este é um roteiro que sigo nos momentos de check-up, quando existe algum problema ou renovação de tratamento. Normalmente costumo realizar os testes por 4 ou 5 vezes ao dia, nos horários recomendados pelo médico.
1. Em jejum
2. Antes do almoço
3. Pós-prandial
4. Antes do jantar
5. Antes de dormir ou nas madrugadas (em alguns dias)
Este último, principalmente, para confirmar se a glicemia está bem quando volto de algum evento e quando saio um pouco da dieta com alimentação ou uma cervejinha que é sempre bem-vinda.
Outra grande mudança em minha vida depois do Dr. Haroldo foi a substituição da caminhada pela frequência assídua às academias. Nunca gostei de academia e as caminhadas ou os treinos de natação em casa nem sempre foram muito sistemáticos, por falta de disciplina e do acompanhamento de um profissional de atividade física. Conforme Dr. Haroldo, os benefícios de incluir atividades físicas na rotina diária de uma pessoa são muitos e importantes, principalmente para aqueles que já apresentamdiabetes e/ou problemas cardíacos, como é o meu caso.
Numa entrevista para o site Sua Dieta, Dr. Haroldo e a professora Patrícia Carneiro, gerente da BodyTech de Goiânia, falaram sobre a importância de exercícios físicos na terceira idade. Assim como os idosos, os portadores de doenças crônicas têm maiores riscos de depressão causada por questões emocionais, além de outras complicações físicas.
Ao se manter em plena atividade, se consegue espantar esses problemas e desenvolver melhorias na qualidade de vida, uma maneira de cuidar da saúde e da mente ao mesmo tempo. A melhor tática é optar pela combinação de exercícios aeróbicos com os exercícios de força. Contudo, o endocrinologista alerta sobre a importância de se escolher uma academia que tenha infraestrutura para esse público específico, pois costumam demandar uma atenção maior de seus professores.
Seguindo o conselho do Dr. Haroldo, comecei a frequentar as academias de Goiânia.
Passei por diversas delas situadas no centro da cidade, mas descobri que a pequena distância entre a academia e a sua casa é muito importante para uma melhor frequência. Assim, descobri a Academia Som e Saúde bem pertinho da minha casa, no Setor Jaó. O proprietário, meu amigo e mestre, professor Estevão Daltro, me ensinou a gostar de malhar como meu personal trainer.
Era um espaço maravilhoso, situada numa construção moderna e espaçosa, com quadras de tênis, piscina e excelentes equipamentos. Eu fazia aeróbica na esteira, depois musculação e, às vezes, para diversificar, natação e massagem shiatsu.
Durante algum tempo, frequentei também o curso de Yoga que era oferecido lá mesmo, na varanda próxima ao belo jardim. Permaneci nessa academia por uns 3 a 4 anos até o encerramento de suas atividades. Foi uma grande perda. Depois passei por outras academias, mas nunca mais deixando de me exercitar, porque quando parava sentia muita falta.
Em 2007, me aposentei e resolvi me mudar para uma cidade mais calma, escolhi Pirenópolis. Assim que lá cheguei, encontrei a Academia FM – Força e Músculo. Seus proprietários Fernando e Marcus, profissionais formados em Educação Física, me receberam com a maior gentileza possível. Marcus se tornou meu personal trainer e, como todos os outros profissionais que trabalharam comigo, me apaixonei.
Foi um perfeito substituto do Estevão. Mestre Marcus fez Pós-Graduação em Atividades Físicas para Diabéticos e Cardíacos durante o período em que eu malhava com ele. Não sabíamos quem ensinava quem. Durante todo tempo, aprendíamos juntos. Permaneci na Academia FM por todo período que morei em Piri, ao longo de 3 anos.
O tempo em que morei em Piri foi muito importante para mim. Lá consegui rever diversos amigos de faculdade (UnB) e de Anápolis, minha cidade natal, que não via há muitos anos. Conheci pessoas maravilhosas e fiz muitos amigos. Por isso, digo que “Piri é a cidade do encontro e do reencontro”.
Trabalhei em projetos da Prefeitura na Secretaria de Turismo, desenvolvendo atividades e eventos diversos. Eu me diverti muito! Foi nessa época que reencontrei meu grande amigo e roommate Beto (Roberto Grangeiro), que até hoje é meu companheiro de morada e de vida. Muito bom na hora da cervejinha de fim de semana, grande camarada!
Em Pirenópolis, Beto que havia morado por 9 anos nos Estados Unidos, vindo direto de Miami, e eu não conseguimos segurar o sossego da cidade pequena por muito tempo. Vindos de uma vida inteira morando em diversas cidades grandes, metrópoles bastante animadas, quando chegava o domingo nostálgico de Piri dava uma imensa vontade de voar.
A cidade só era animada nas sextas e sábados. Durante a semana, a nostalgia aumentava e quase virava depressão. No final de 2009, ele me convidou para passar o réveillon no Rio de Janeiro e ali, no meio de quase 3 milhões de pessoas, resolvemos mudar para a “cidade maravilhosa”.
Em agosto de 2010, montamos nosso apartamento em Ipanema. Foi muito bom termos mudado juntos porque acho que sozinho nenhum de nós dois conseguiria enfrentar uma nova vida no Rio.
Dividimos as responsabilidades do apartamento e mutuamente a gente trocou forças e energias, para o sucesso das novas atividades de cada um e para conseguirmos uma vida saudável na nova cidade que escolhemos. Assim, nossa amizade se fortaleceu e até hoje moramos juntos.
A ÚLTIMA CIRURGIA
Em abril do ano passado (2012), resolvi ir a um angiologista no Rio por causa de uma dor nas pernas durante os exercícios da academia. Assim, acabei por descobrir a necessidade daquela velha cirurgia recomendada em 1984, quando tive o primeiro infarto, e também ao longo das diversas intervenções cardíacas realizadas em Goiânia. Fiz um novo cateterismo que confirmou que seria realmente necessária a realização de uma cirurgia de revascularização do miocárdio.
O antigo medo da cirurgia voltou fortemente quando me vi diante da importância de sua realização. Nesse momento fui pedir conselhos para Andyara, “minha mana caetana” que havia feito a mesma cirurgia um ano antes. Sua descrição sobre os detalhes, e momentos mais difíceis muito me ajudaram na decisão.
“A medicina desenvolveu muito depois daquela época que você teve seu primeiro infarto. Hoje é tudo mais fácil, a gente praticamente não vê nada e os momentos difíceis são tão rápidos que logo esquecemos. Não tenha medo, você vai ficar bem como eu estou.” disse-me Andy com toda a sua experiência. Depois me falou dos médicos, dos momentos na UTI, dos primeiros dias em casa e muito mais.
Como eu estive com minha irmã por algum tempo durante a recuperação de sua cirurgia, consegui entender bem todos os seus comentários. Mas a força, o estímulo e o apoio que Andy me deu foram fundamentais para minha decisão, além da coragem e segurança que adquiri para enfrentar esse difícil momento de uma cirurgia tão invasiva.
Na busca por um médico cardiologista, tive a grande sorte, ou melhor, a proteção dos céus ao encontrar um dos melhores especialistas dessa área no Rio de Janeiro: Dr. Edson Magalhães Nunes. Como a medicina está longe de ser uma ciência exata, é muito difícil escolher o médico ideal nesses momentos, porque isso exige bem mais do que a análise de currículo ou de referências.
Na época, os próprios profissionais que me atenderam no hospital que fiz o cateterismo me recomendaram o Dr. Edson Nunes. Depois, evidentemente, fui fazer uma pesquisa na internet e descobri duas matérias importantes que me sugestionaram.
Na primeira delas, de outubro de 2009, a revista Veja Rio pediu a um grupo de 25 notáveis da área da saúde que recomendassem os melhores nomes da cidade em 21 especialidades. Entre esses médicos referidos, Dr. Edson foi escolhido na área de cirurgia cardiovascular.
A segunda reportagem era da revista Caras, publicada em 23 de Julho de 2012:
“Cirurgia de Claudia Jimenez foi considerada um sucesso – Após quase sete horas de cirurgia, terminou às 15h desta segunda-feira, 23, a operação para a substituição da válvula aórtica de Claudia Jimenez (53). A atriz acabou de ser levada para o CTI e a intervenção foi considerada tecnicamente um sucesso pelo cardiologista Edson Nunes. O médico Edson Nunes foi o mesmo que operou a atriz pela primeira vez. “Foi ela quem escolheu e quis o doutor Edson. Foi uma cirurgia muito delicada e agora temos que aguardar, mas ela é muito forte”, disse Stella Torreão, amiga e ex-companheira da atriz”.
Goiano, coincidentemente meu conterrâneo de Anápolis, criado em São Paulo e morador do Rio desde 1986, o cirurgião é graduado em Medicina na Universidade Federal do Pará (UFPA), com especialização em cirurgia cardiovascular.
Dr. Edson Nunes tem uma rotina que exige fôlego de maratonista. Diariamente, realiza até três intervenções complexas – a mais comum é a chamada cirurgia de revascularização do miocárdio, a popular “ponte de safena”.
A minha cirurgia foi realizada no dia 19 de novembro de 2012, no Hospital São José em Humaitá, no Rio de Janeiro. Foi uma revascularização do miocárdio, quando foram implantadas quatro pontes de safena e uma ponte mamária. Os primeiros dias, evidentemente, foram muito difíceis, mas como dizia meu pai, “isso também vai passar”.
Além da competência do Dr. Edson, contei também com sua equipe de acompanhamento do pré e pós-cirúrgico, com quatro médicos e a excelência do hospital. Vieram de Goiânia meu filho Tom, sua esposa Andrea e meu irmão Berocan.
Felipe, meu sobrinho “carioca”, foi outro que apareceu na hora H. Tive a maior assistência desses meus queridos, tendo eles se revezado para ficar comigo no hospital. Foram cinco dias de UTI e cinco de internação em apartamento.
Depois, em casa, repouso absoluto por dois meses, quando Beto teve um tempinho no trabalho e Ana Lúcia, minha querida secretária, me deram todo o suporte necessário para a recuperação.
Graças a Deus, o pior já passou e hoje estou bem, me readaptando às atividades principais de uma vida normal e sadia: controle de glicose, academia, alimentação saudável e a cervejinha…só nos finais de semana.
Minha última consulta com Dr. Patrícia Nunes Barbieri, cardiologista que está me acompanhando após a cirurgia, já me liberou para as atividades diárias e disse que todos os exames estão excelentes, o que significa dizer que a cirurgia foi um sucesso.
Dra. Patrícia é coordenadora da equipe clínica do Dr. Edson, que acompanha o pré e pós-operatório de suas cirurgias. É especializada em Clínica Médica e Cardiologia e médica intensivista da Unidade Coronariana / CTI dos principais hospitais do Rio de Janeiro: Pró-Cardíaco, São José, São Lucas, entre outros.
Competente, amável, jovem e muito bonita, Dra. Patrícia tem me incentivado a voltar à vida normal e a desenvolver tanto as atividades necessárias ao tratamento, quanto outras que tanto gosto, como fotografia, viagens, meio ambiente, música, teatro, cinema, etc.
Em verdade, minha vida foi sempre muito alegre e festiva. Passei por diversos bons momentos e enfrentei os problemas que, claro, apareceram em quantidade, mas que pude superar com certa disciplina e atenção ao diabetes para conseguir uma vida sadia e feliz.
Gostaria de mostrar para os novos diabéticos que é realmente possível ter uma vida saudável, desde que sempre atentos aos tratamentos e recomendações médicas, enfrentando os problemas que vierem com paciência e coragem. No site Super Diabético dessa semana, tem uma citação que adorei e que gostaria de repetir:
“Encare a realidade do diabetes com coragem e visão. A fase mais desafiante da doença é ‘O INÍCIO DE TUDO’. Se passar por essa fase e crescer com as dificuldades acredite, seu futuro irá sorrir”GM.
Aracy é arquiteta e urbanista formada pela Universidade de Brasília, e Pós-graduada em Gestão Ambiental pela PUC/GO & Cetresg – SENAI/GO
Como profissional atuou nas áreas de Arquitetura, Urbanismo, Meio Ambiente, Fotografia e Produção de Eventos. Atualmente atua em Consultoria nas áreas citadas.
Email: aracyleite@uol.com.br
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