O diabetes não é uma doença contagiosa. Você não pega diabetes de outra pessoa, só por estar na companhia dela – apesar de algumas pessoas ainda pensarem que sim. O diabetes é uma disfunção do organismo, desencadeada por questões multifatoriais: genéticas, comportamentais, e ambientais. Existem tipos diferentes de diabetes e de tratamentos. E, o mais surpreendente: existem pessoas com diabetes que nem sabem que estão diabéticas.
Mas, deixando de lado a introdução, vamos falar sobre como o diabetes pode contagiar as pessoas, realmente. Esse é um dos lados bons de quem convive com o diabetes, para aqueles que achavam que não existiam coisas boas. Ah, tem gente, que não acha nada bom, em nada. Mas não é para eles que escrevo hoje.
Escrevo para quem contagia e se deixa contagiar por atitudes e ideias boas, simples, saudáveis e práticas. A vida moderna nos exige tanto, por isso, precisamos ser práticos e facilitar para o nosso lado.
Depois que recebemos um diagnóstico de diabetes nossa vida muda. Para melhor ou pior, vai depender de cada um. Quem quiser mudar para melhor vai ter que fazer algumas alterações na alimentação e procurar ter uma vida mais ativa. Ninguém está falando em restrição alimentar e nem em se tornar um atleta. Apenas se reeducar para comer melhor e manter o corpo em movimento.
Essas duas atitudes fazem grandes mudanças em nossas vidas, e nas vidas de outras pessoas que convivem com a gente. Quando nos propomos a comer coisas mais saudáveis, a preparar nosso alimento em casa, com menos gordura, sal e açúcar, e a incluir na nossa rotina atividades físicas, nossos familiares e amigos ficam contagiados por essas pequenas atitudes. Nem sempre conseguimos enxergar que o diabetes nos coloca no prumo, nos faz ficar mais exigentes por qualidade e não por quantidade, nos deixa mais confiantes, mais sensíveis aos sabores e menos vulneráveis aos exageros.
A reeducação alimentar para quem convive com o diabetes não tem mistérios. Pode-se comer de tudo com moderação, priorizando, claro, alimentos saudáveis, com mais fibras. O que isso significa? Ao invés de tomar o suco de uma fruta, como a laranja, que é bastante calórica, coma a fruta. Aprecie o sabor e a textura. E beneficie-se das fibras. Nas refeições inclua mais legumes e vegetais. Não quer dizer que você não poderá nunca mais tomar o seu suco preferido, mas que você vai aprender a apreciar outras maneiras de se alimentar do que você gosta, e de vez em quando tomar seu suco. Sem restrição, mas com equilíbrio.
Esse é o segredo da reeducação alimentar. Saber que se pode tudo, mas que para tudo existem limites e momentos. E isso é o que contagia as pessoas que convivem com quem tem diabetes. Quando digo que não quero alimentos com açúcar no café da manhã na casa de algum amigo, no clube, no hotel, ou na casa de familiares, essa atitude vai fazer as pessoas refletirem sobre como elas estão se alimentando, e futuramente, elas própias farão escolhas mais saudáveis. Quando digo que fui ao trabalho de ônibus e desci duas paradas antes para poder dar uma caminhada no dia, ou que vou ao parque caminhar, pedalar, correr, deixo a ideia na cabeça das pessoas. A melhor motivação é o exemplo.
Quem tem ou convive com a diabetes de algum familiar, precisa saber que odiabetes que administramos nos impulsiona para uma vida melhor. E ainda, de brinde, leva junto uma legião de pessoas, que nem fazemos ideia. Quando vamos ao supermercado e colocamos no nosso carrinho produtos saudáveis algumas pessoas vão notar, e se sentirão motivadas a fazer o mesmo. Não falo só dos produtos diets, mas também das frutas, saladas e pães integrais. Quando saímos para nos exercitar e encontramos um vizinho no elevador, nem fazemos ideia do quanto motivamos ele a fazer o mesmo. Não precisamos falar aos outros que temos diabetes para motivá-los, contagiá-los com atitudes saudáveis. Precisamos, simplesmente, fazer escolhas e ter atitudes saudáveis.
O diabetes não é só o fim e a perda de muitas coisas. Ele também é o começo e a conquista de uma vida mais plena de sentido. Deixe-se contagiar por estas conquistas! E surpreenda-se com quantas pessoas vão se contagiar, a partir de você.
Psicóloga, Educadora em Diabetes e mãe de uma pré-adolescente com diabetes tipo 1. Atualmente trabalha em seu consultório particular, em Porto Alegre, atendendo crianças, adolescentes e adultos. Tem experiência com grupos terapêuticos de familiares e grupos de jovens. Procura passar através do seu conhecimento informações sobre diabetes e apoio emocional.
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