Uma pergunta frequente no consultório sempre que alguém recebe o diagnóstico de diabetes mellitus é: “Posso beber um vinho ou uma cervejinha vez ou outra? Quanto posso beber?” Antes de responder esta dúvida frequente, é importante conhecermos algo chamado de “paradoxo clínico do álcool”.
O consumo de álcool pode causar doenças e aumentar o risco de morte. Por outro lado, o álcool também pode ajudar a prevenir problemas de saúde e aumentar a longevidade. Ora, como pode a mesma substância fazer mal e bem ao mesmo tempo? Chamamos isso de paradoxo clínico do álcool. O que define se o álcool fará bem ou mal é a quantidade e a maneira com que é consumido.
Para quem ainda não é diabético, o consumo de álcool em doses moderadas pode ajudar a prevenir a doença. Uma revisão de 15 estudos publicada na revista médica Diabetes Care em 2005 mostrou que o consumo diário de até 48 gramas de álcool (o equivalente a duas taças de vinho ou duas garrafas de cereja) estava associado a redução de 30% no risco de diabetes. Aparentemente, doses em torno de 30 gramas de álcool melhoram a sensibilidade a insulina, isto é, facilitam o funcionamento deste hormônio que ajuda nossas células a usar a glicose, o “açúcar do sangue”.
Em pacientes que já são diabéticos, o consumo moderado de álcool também pode ser benéfico. Um estudo israelense publicado em 2007 também na revista Diabetes Care evidenciou que o consumo de uma taça de vinho tinto ou branco todos os dias foi capaz de baixar a glicemia em jejum em 20 mg/dL durante os 3 meses de seguimento. Outro estudo, publicado na revista JAMA, com mais de 900 pacientes diabéticos idosos mostrou que o consumo de pelo menos 14 gramas de álcool por dia foi capaz de reduzir o risco de morte por doenças isquêmicas do coração em cerca de 80%.
No entanto, o consumo de álcool não é bom para todos os pacientes diabéticos. Pacientes com sintomas causados por doenças nos nervos periféricos (neuropatia diabética) ou com hipoglicemias (quedas de glicose) frequentes podem apresentar piora desses sintomas. Mulheres com histórico familiar de câncer de mama e qualquer paciente com potencial para abuso de substâncias também devem ter o consumo desencorajado.
Por fim, grande parte do conhecimento sobre o consumo de álcool vem de estudos epidemiológicos. Isto quer dizer que são estudos sujeitos a falhas metodológicas e que os resultados devem ser interpretados com cautela. Apesar disso, e respondendo a pergunta inicial, à luz do conhecimento científico atual, o paciente diabético pode sim beber uma cervejinha sem maiores preocupações, desde que na dose apropriada e após avaliação do seu endocrinologista.
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