sexta-feira, 8 de julho de 2016

SUCRALOSE EM DEBATE: O QUE DEVEMOS SABER?

Considerando os vários comentários negativos sobre o adoçante sucralose recentemente veiculados nas mídias sociais, o Departamento de Nutrição da SBD vem se posicionar sobre a questão. Um artigo científico publicado em 2015 (1) por pesquisadores da Unicamp em um periódico online pertencente ao grupo Nature, alertou para os potenciais riscos do uso da sucralose, especificamente, em alimentos e sobremesas quentes, como chás, cafés, bolos e tortas. Os principais resultados do estudo indicam que, quando aquecido, o adoçante torna-se quimicamente instável, liberando compostos potencialmente tóxicos e cumulativos ao organismo humano.
Derivado da sacarose, o nosso açúcar de mesa, a sucralose é o adoçante mais consumido no mundo e liberado irrestritamente pelos principais órgãos de segurança alimentar, incluindo o Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, o Joint Expert Committee on Food Additivies (JECFA), da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Brasil. No estudo em questão, foi demonstrado que, quando aquecida, a sucralose torna-se quimicamente instável, liberando hidrocarbonetos policíclicos aromáticos clorados (HPACs), compostos tóxicos, cumulativos no organismo humano e potencialmente cancerígenos. Isso acontece por conta de uma reorganização das moléculas, quando elas são aquecidas. Os HPACs estão associados ao aumento da incidência de diversos tipos de canceres no homem. A exposição humana aos HPACs se dá principalmente através da contaminação ambiental por meio da fumaça gerada a partir da queima de combustíveis fósseis.
Estudos anteriores evidenciaram a hipótese de que a sucralose não seria adequada para processos que envolvem temperaturas acima 120°C, condições próximas das condições de pirólise. Verificou-se uma forte evidência de que hidrocarbonetos aromáticos policlorados (PCAHs) são formados a partir de sucralose a partir de temperaturas de água a ferver (acima de 98°C), que é a temperatura habitual alcançada quando são preparadas bebidas quentes, tais como café ou chá.
A sucralose foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) como um edulcorante de mesa em 1998, seguindo-se a aprovação como um adoçante de uso geral em 1999. Antes de aprovar o adoçante, a FDA revisou mais de 100 estudos de segurança realizados no edulcorante, incluindo estudos para avaliar o risco de câncer. Os resultados destes estudos não mostraram nenhuma evidência de que o adoçante cause câncer ou represente qualquer outra ameaça à saúde humana (2). A Ingestão Diária Aceitável (ADI) é de 0 - 15 mg / kg de peso corporal, segundo o resumo das avaliações realizadas pelo Comitê Misto Food and Agriculture Organization of the United Nations / World Health Organization (FAO/WHO) de Peritos em Aditivos Alimentares (3,4).
O Conselho Federal de Nutricionistas publicou um comunicado em fevereiro desse ano sobre a recomendação do uso de sucralose (4), destacando que esta foi sugerida para avaliação do Grupo Consultivo da International Agency for Research on Cancer (IARC), com alta prioridade, para estimativa de carga global do Câncer, no decorrer dos anos de 2015 a 2019 (5).
O estudo da Unicamp, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), não determinou a quantidade liberada de HPACs e o impacto direto da queima da sucralose no organismo humano. Muito há de ser elucidado para que isso passe a ser uma orientação clínica, sendo fundamental que mais pesquisas sobre o assunto sejam conduzidas.
A sugestão do Departamento de Nutrição da SBD é a prática de uma alimentação saudável, composta por alimentos menos processados, livres de aditivos, e caso seja indicado o uso de adoçantes artificiais em geral, estes devem ser consumidos com moderação e conforme indicado, respeitando um rodízio dos tipos de adoçantes existentes no mercado para não ocorrer grande exposição a uma só substância. Além disso, sobre a sucralose em questão, os estudos demonstraram a seguridade da mesma em produtos sem aquecimento térmico, sem tal polêmica quando utilizada em sucos, líquidos e outros alimentos em baixas temperaturas.
Referências:
(1) Oliveira, D.N., de Menezes, M. & Catharino, R.R. Thermal degradation of sucralose: a combination of analytical methods to determine stability and chlorinated byproducts. Sci. Rep. 5, 9598; DOI:10.1038/srep09598, (2015).
(2) NATIONAL CANCER INSTITUTE. Artificial sweeteners and cancer. Disponível em: <http://www.cancer.gov/about-cancer/causes-prevention/risk/diet/artificial-sweeteners-fact-sheet>.
(3) IPCS-INCHEM. Resumo das avaliações realizadas pelo Comité Misto FAO / OMS de Peritos em Aditivos Alimentares: sucralose. Disponível em: <http://www.inchem.org/documents/jecfa/jeceval/jec_2206.htm>
(4) CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS - Recomendação CFN nº 3/2016 – Sucralose. 2016. http://www.cfn.org.br/index.php/recomendacao-cfn-no-32016-sucralose/
(5) INTERNACIONAL AGENCY FOR RESERACH ON CANCER – WORLD HEALTH ORGANIZATION. IARC Interim Annual Report 2014. 2014. Disponível em: <http://governance.iarc.fr/SC/SC51/SC51_2.pdf>
nformações do Autor

Débora Bohnen Guimarães
Nutricionista com especialização em Nutrição Clínica
Mestre em Educação em Diabetes pelo IEP - Santa Casa de Belo Horizonte
Nutricionista do Ambulatório de Diabetes tipo 1 da Santa Casa de BH
Membro do Departamento de Nutrição da SBD - biênio 2016-2017.
Docente do mestrado de Educação em Diabetes - IEP Santa Casa de BH.

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