Entre os lançamentos apresentados em fórum há medidor que “conversa” com Iphone e Ipod
Qualquer pessoa que tem uma doença crônica sonha um dia ouvir a notícia de que pesquisadores descobriram a cura para o seu problema. No caso do diabetes, essa realidade ainda está distante, mas enquanto não chega a esperança do paciente se renova cada vez que a indústria farmacêutica lança produtos capazes de facilitar o tratamento e melhorar a qualidade de vida. No último Fórum Internacional de Diabetes, realizado recentemente pela SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) em parceria com a IDF (Federação Internacional de Diabetes) e a Associação Latino-Americana de Diabetes, em Foz do Iguaçu, foram apresentados medicamentos e tecnologias que prometem controlar a glicemia de forma mais eficaz e com menos efeitos colaterais.
Entre as novidades estão medicamentos que estimulam a perda de açúcar pela urina, insulina com efeito de mais de 40 horas, remédio que alia controle glicêmico com redução de apetite, bomba de insulina inteligente que para de funcionar em caso de hipoglicemia e medidor de glicemia que “conversa” com Iphone e Ipod Touch e envia dados do paciente para o e-mail do médico.
Para o endocrinologista Walter Minicucci, presidente da SBD, “é inegável que os lançamentos deste setor contribuem para melhorar o controle da glicemia, mas é preciso saber usá-los”.
— Não adianta o melhor remédio do mundo se a pessoa não sabe usar o recurso do jeito correto. Por isso, reforço que a educação em diabetes é fundamental. Além disso, não basta só medicamento para tratar a doença. Exercício físico, alimentação balanceada e acompanhamento médico são primordiais para o bom controle da glicemia e a prevenção de complicações.
O diabetes atinge mais de 383 milhões de pessoas no mundo e até 2035 a previsão é que esse número chegue a 592 milhões. O Brasil ocupa a 4ª posição do ranking, com 11,9 milhões de diabéticos, perdendo apenas para China, Índia e Estados Unidos, segundo o mais recente relatório divulgado no ano passado pela IDF.
Para tratar o diabetes tipo 2, que representa 90% dos casos da doença entre os brasileiros, a indústria farmacêutica Sanofi-Aventis lançou o Lyxumia (lixisenatida). O medicamento promete aumentar o tempo de esvaziamento gástrico, ou seja, mantém a comida por mais tempo no estômago, conforme explica o endocrinologista João Eduardo Salles, professor titular de endocrinologia da Santa Casa de São Paulo e diretor da SBD.
— O medicamento age de forma semelhante a uma substância natural do organismo chamada GLP-1, que está associada à produção de insulina. Quanto mais tempo a comida fica no estômago, mais lenta é a elevação da glicemia. Além disso, por conta desse mecanismo o paciente ainda se beneficia com a redução do apetite e do peso.
O medicamento já foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas só deve chegar ao mercado no segundo semestre deste ano. Outra novidade para os diabéticos tipo 2 é o Forxiga (dapagliflozina) — remédio que atua no rim e estimula a perda de açúcar e sódio pela urina e, consequentemente, reduz o peso e a pressão arterial.
Segundo o laboratório AstraZeneca, que produz o medicamento, o Forxiga pode ser usado em qualquer fase da doença como monoterapia ou combinado com a insulina. O medicamento é de uso oral e deve ser administrado uma vez ao dia. Já disponível no mercado brasileiro, uma caixa com 30 comprimidos custa em torno de R$ 130.
Com tantas classes de medicamentos, o endocrinologista Luiz Turatti, vice-presidente da SBD, reforça que o tratamento do diabetes deve ser individualizado e combinar mais de uma droga.
— Hoje em dia, tratar diabetes com um único remédio funciona cada vez menos. A tendência é combinar dois ou mais medicamentos e, claro, conhecer o perfil do paciente. Tratar uma pessoa de 45 anos e um idoso de 70 é completamente diferente.
Novas armas contra o diabetes tipo 1
O laboratório Novo Nordisk apresentou a primeira insulina de ação ultraprolongada com efeito de 42 horas. Chamada de tresiba, a grande vantagem do medicamento é que o paciente não precisa fazer a aplicação sempre no mesmo horário, explica a gerente médica de diabetes do laboratório, Mariana Narbot.
— A insulina garante cobertura de 24 horas de forma homogênea, causando menos hipoglicemia noturna. Apesar de agir por mais de 40 horas, a aplicação deve ser diária, com intervalo mínimo de oito horas.
A insulina foi liberada pela Anvisa em fevereiro deste ano e está em fase de aprovação de preço para a comercialização. A previsão é que ela esteja nas farmácias de todo o País no segundo semestre.
Para aqueles que usam bombas de insulina, a novidade é a chegada do sistema de infusão Paradigm VEO, da Medtronic. O diferencial é que o aparelho interrompe o fornecimento de insulina caso o paciente apresente hipoglicemia (níveis de açúcar no sangue muito baixos). A bomba já tem autorização da Anvisa para ser vendida no País.
Mesmo com tantos lançamentos, o presidente da SBD alerta que o número de portadores da doença só aumenta no Brasil e no mundo, especialmente por causa do excesso de peso, sedentarismo e má qualidade da alimentação.
— Sou fã da tecnologia e sabemos que os novos medicamentos mudam paradigmas e permitem um controle melhor, mas infelizmente não são acessíveis a todos. Para combater a doença, acredito em informação, conscientização e educação.
Turatti concorda com o colega, mas não se mostra otimista com a mudança do cenário nos próximos anos.
— Temos todas as armas para combater o diabetes, mas o governo não está preocupado com a doença. Na rede pública, as medicações são antigas, sem falar na falta de conscientização do paciente, médicos e familiares.
Salles acrescenta que não há políticas públicas efetivas para a redução da obesidade, principal causa do diabetes tipo 2, e nem ações que mostrem a importância da prevenção.
— Em um País que ainda tem dengue e doença infectocontagiosa, fica difícil combater o diabetes, que é uma doença silenciosa e traiçoeira. É preciso tirar da cabeça da população que só é diabético quem come doce.
Medidor de glicemia que “conversa” com o Iphone
O tratamento do diabetes exige a constante monitorização da glicemia — aquela picadinha diária no dedo que fornece uma gota de sangue para o paciente medir a quantidade de glicose naquele momento. A novidade neste setor são dois monitores fabricados pela Sanofi-Aventis: IBGStar™ (foto acima) e BG Star. O primeiro lembra um pen drive e é compatível com o iPhone e o iPod Touch, ou seja, o paciente mede a glicemia e compartilha os dados com o médico via e-mail. Já o BG Star é um aparelho comum, igual aos já disponíveis no mercado brasileiro.
Segundo o laboratório, ambos devem chegar às prateleiras das farmácias entre junho e julho deste ano. O IBGStar será comercializado por cerca de R$ 250 e o BG Star custará bem menos, R$ 80.
Nenhum comentário:
Postar um comentário